segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Jornal de Viagem VIII - ainda a Noruega


Curiosidades sobre a Noruega 



1) OS SAMIS

Os Samis, minoria étnica nômade mais antiga da Europa, que habita parte da Rússia, Finlândia, Suécia e Noruega (na chamada Lapônia, dizem, vivem hoje cerca de 32.000 samis, autênticos, sem miscigenação, numa área de 390.000 km2). Cultivam o idioma "sami" e, desses, 20.000 vivem na Noruega, país que os reconhece e integra e possuem um Parlamento independente. Só para se ter uma ideia até onde vai essa inclusão, os samis conquistaram  o direito de estudar seu idioma nas escolas, com direito a cotas na Universidade. Como são nômades, o governo fornece para as famílias computadores com programas especiais e envia ônibus com professores e bibliotecas que percorrem todo o extremo norte do país a cada 30 dias para atender as crianças.  Não por acaso, os samis não  mais aceitam serem chamados de "lapões" cujo significado é "proscritos".

Na inóspita paisagem do altiplano de Hardanger (2 hab. por km2), tivemos a sorte de encontrar estas curiosas casinhas em forma de iglu, mas com uma técnica ainda norueguesa ainda utilizada, a dos telhados de grama (*) 



Aqui os samis comercializam seus produtos no verão (no inverso chega cair um metro de neve numa única noite), quase todos oriundos de sua principal atividade, a caça (renas)




Na ocasião, conheci uma representante autêntica desse povo tão antigo que, como requerem os bons tempos, falava (mal) inglês.



Empolgada, "paguei um mico" de turista, comprei uma touca apropriada para o clima deles que, sei, jamais usarei.

(*) os telhados de grama, antiga técnica vicking, são térmicos e protegem do frio. A técnica é a seguinte: sobre uma espécie de caixote de madeira dura (carvalho ou outra) com uma base de 25, vão colocando sucessivamente camadas de cascas de bétula e de terra, até completar 7 camadas. Prensam bem de na última camada de terra plantam a grama e outros arbustos. As raízes vão se entrelaçando e, após o primeiro inverno, com a umidade da neve, o telhado fica compactado e dura cerca de 30, 35 anos. Para aparar o telhado? coloca-se um carneiro lá para pastar e, em poucas horas, está feito o serviço.

2) A LINGUAGEM DAS BANDEIRAS


Apesar de aberto para o mundo, solidário e hospitaleiro, o povo norueguês gosta de manter uma certa "solidão" ou "isolamento" e preza muito sua privacidade. As casas raramente são perto uma das outras. Assim, há uma prática de hastear bandeiras nas casas, com um significado ancestral, que vem de um tempo em que o único meio de comunicação era a própria presença humana.








Ainda que esse costume hoje esteja mais restrito a ocasiões de festas, batizados e outras solenidades familiares, ainda se vê, principalmente no campo, bandeiras hasteadas que significam o seguinte: se a bandeira não está hasteada, melhor não ir, de duas uma: ou não há ninguém em casa, ou simplesmente os donos não estão dispostos a receber visitas. 


3) OS TROLLS



Num país com tantas noites sem dias, é preciso haver muita mitologia para povoar os dias escuros. Dentre os muitos seres presentes na mitologia norueguesa, destacam-se os "Trolls", seres fantásticos, com fama de mal humorados e selvagens, que habitam as densas florestas e só podem sair de lá após o crepúsculo (que lá, no verão, ocorre entre meia noite e uma hora), pois se recebem um único raio de sol são imediatamente convertidos em pedra. Sim, há rochas que possuem o formato de troll (juro que vi, nuvens também).



Possuem um rabo peludo, 4 dedos, cabeleira grande e desgrenhada, cheiram mal, são longevos e vivem em "famílias". Comem muito e gostam de irritar os humanos.


Os camponeses, com medo dessa irritação e temendo que os trolls comam seus bichos, costumam deixar boas quantidades de alimentos do lado de fora das casas para saciá-los. Possuem poderes extraordinários e podem se transformar em qualquer coisa (gente, planta), mas a única coisa que neles não se transforma é o rabo. Quando um homem se apaixona, diz a lenda, por um garota especial, dá-lhe uma volta ao corpo, a ver se não há no seu traseiro um rabo disfarçado. Os trolls são inimigos dos gnomos que, assim como os Elfos, também habitam os bosques e florestas.


Entradas, janelas e portas das casas são adornadas com imagens de trolls. São para "afugentar" outros "maus espíritos".


Estas imagens de trolls são os souvenires mais vendidos na Noruega. Meus netos piraram nessa história (e você, não?).




4 comentários:

  1. "Comem muito e gostam de irritar os humanos."
    Ops, de repente até pensei que a Amiga estava a falar de coelhos. Afinal é sobre os simpáticos trolls :)
    Muito bom quando (ainda) nos deixamos encantar por estas histórias. A 1ªvez que pisei solo brasileiro (decorria o ano de 1992, salvo erro) foi-me oferecido um gnomo que até hoje me recorda o tanto de maravilhoso que foi esse sonho transformado em realidade.
    É também disso que a vida é composta, não?!
    Prazeroso vir "À Janela...", e recordar uns e querer (re)ver outros gnomos, trolls, sejam lá o que forem, desde que nos façam sorrir.

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    1. Obrigada, cara Isa, pela leitura sempre generosa e pelos acréscimos.

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  2. E por falar em comer, que achou da gastronomia nórdica? Esta semana provei o Brunost (queijo castanho) nas variedades de Gudbrandsdalsost e geitost. Não posso dizer que não gostei mas... sinceramente prefiro o nosso queijo amanteigado serrano ou até o "malcheiroso" alentejano, isto já para não falar do de Azeitão (lembra?)
    Hummmm... deu fome agora :)

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    1. A comida nórdica é muito simples e remonta à culinária camponesa, ou seja, pratos sem muitos recursos inventivos e eu particularmente gosto disso. Os pescados, em especial, o forte dessa culinário, são muitos bons de todas as maneiras - frescos, marinados, defumados, secos, salgados, enfim...ah... com exceção de carne de baleia, muito consumida, fresca, nesta época do ano (a caça à baleia, determinadas espécies é ali liberada) que não tive coragem de experimentar. Experimentei o queijo que você cita e achei muito bom (tem o aspecto de doce de leite e... tem gosto de doce de leite. Não, não se pode comparar com os queijos portugueses e nem com os franceses (gosto de todos) por serem coisas muito, muito diferentes.

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