sábado, 29 de novembro de 2014

Da série, Olha só o que o carteiro deixou aqui II


Este nem precisei "rasgar" o envelope porque veio nos moldes de "arte correio", "propostal", poesia "em aberto" a quem dela queira se apropriar, como convém a um poeta, meu velho camarada Zhô Bertholini. Resistente às novas mídias, fiel à velha caixa postal 071, Vai deixando marcas do corpo no papel, jamais em branco, jamais vazio, sempre arte (para partilhar, para (re)distribuir. 
Mais uma preciosidade que vai para a minha caixa relicário



quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Da série, Olha só o que o carteiro deixou aqui




Cheguei há pouco do trabalho. Sobre a escrivaninha, esperava-me um envelope amarelo, subscrito com meu nome em letra elegante. O carimbo do correio registra: Madrid 10 Out.2014. Foi uma longa viagem (45 dias) até chegar ao seu destino. O gesto de abrir um envelope assemelha-se a gestos ancestrais de descobertas. Foi assim que mergulhei em delicadezas e poesia, mimos preciosos enviados por alguém que até então era um desconhecido (não é mais...). Uma edição fac-similar do Romancero Gitano de Lorca... objeto gráfico e simbólico tão estimado! E não só, recheado de outras delicadezas que me fizeram passear pela linda Madrid, cidade onde já estive por 3 ou 4 vezes mas que há anos não visito. Nunca estive lá no Outono, mas é a estação de que mais gosto (em qualquer canto do mundo). Receber folhas outonais madrilenhas, envolvidas em papel de seda com a legenda: "el otoño ha llegado" representa uma verdadeira epifania! Depois, passear pelo Reina Sofia, Prado, e o Museo del Romanticismo (este eu não conhecia) e um marca-página com a imagem da grande e trágica poeta argentina Alejandra Pizarnik!... Ser apresentada a Joaquin Sorolla (também não conheço - ó mundo tão vasto, e tanto ainda a conhecer!) e terminar o "passeio" em Lisboa, com Jazz às onze (assim como o remetente, também gosto de recolher postais por onde ando, guardá-los ou presenteá-los, marcas do vi e ouvi. Obrigada, caríssimo amigo. A partir de agora,  o amigo virtual torna-se uma presença física (real e de muita sensibilidade). E viva os "milagres" das redes sociais (para o bem e para o mal. Para o bem, neste caso, claro - até porque, os casos de "para o mal" simplesmente ignoro). Bem haja!



quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Diário (quase íntimo) 2013

quarta, 27

"À medida que nos aproximamos da morte, também nos voltamos para a terra. Mas não para a terra em geral e sim para aquele pedaço, aquele ínfimo mas tão querido, tão saudoso pedaço de terra em que transcorreu nossa primeira idade"
"A mim, a literatura permitiu expressar horríveis e contraditórias manifestações de minha alma"
"Quando já abandonamos a energia dos trabalhos, o ardor da paixão, a ilusão de outros projetos, com frequência ficamos habitando o presente, distraidamente, como um jogo ao qual não prestássemos atenção, porque nosso eu mais profundo ancorou-se àqueles momentos em que a vida resplandecia".
Ernesto Sabato, "Antes do Fim" (tradução Sérgio Molina, Cia. das Letras), livro belo e terrível, visão lúcida e sombria dos derradeiros anos do grande escritor argentino. Livro que leio, quando não deveria ler.


quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Poema para Iara

Iara

já és tudo e nadas
nas insondáveis
águas das
profundezas do ser
da grande mãe Carolina
que te gera e acalanta
que te sonhou e
da bisavó Senhorinha
recebeu a anunciação

aqui, esta mãe
que gerou tua mãe
acostuma-se ao nome
e de neta te chama
Iara-I
Iara pequena
Iara das águas
Iara canora
Iara nomeada
Iara, mesmo antes de vir a ser

teu nome, Iara, é música
em I maior, andante
para tambores e oboé

(de dtv para Iara, a 4ª neta, que se juntará em breve a três gentis cavalheiros que a antecederam)