LEGADO
“Gostaria de ser recordado como um bom mestre de
leitura, alguém que passou a vida a ler com os outros”
Morreu nesta segunda-feira, 03.02.2020, aos 90 anos, o professor,
crítico e pensador George Steiner, um verdadeiro Mestre.
Há menos de dois anos, numa bela entrevista que
concedeu ao jornal português "Expresso" (ver link no primeiro comentário), disse
que “o verdadeiro crime é viver demasiado”. Seu corpo estava cansado, mas a
mente lúcida e ligeira de sempre não o abandonou.
Tão logo fui informada de sua morte, fiz o que
sempre faço quando um dos escritores de minha predileção parte, ou seja,
ponho-me a reler sua obra, neste caso, trechos (os sublinhados, como neste
caso). Esta é minha forma de homenagear aqueles que muito me ensinaram, revendo
seu legado. Muito aprendi com sua obra, em especial, a tornar-me uma leitora
mais aguda, a valorizar o silêncio que o autêntico ato de pensar e criar exigem.
Antes de conhecer propriamente o pensador crítico,
conheci boa parte do homem , através do primeiro livro que li dele, ou melhor,
sobre ele: “George Steiner: À Luz de si mesmo” (Ed. Perspepectiva , 2003).
Trata-se de uma série de entrevistas realizadas por Ramin Jahanbegloo, nas
quais Steiner fala de sua formação, de sua família de origem judaica e de seus
“exílios” mundo afora, da importância de dominar vários idiomas (para não se
sentir tão estrangeiro em qualquer parte) e poder recomeçar a vida em outros
países. “Nenhuma paixão desperdiçada (Record, 2001) foi o segundo livro de sua
autoria que li e, logo depois o “Gramáticas da criação” (Ed. Globo, 2003).
Em 2009, num momento em que me encontrava em
Portugal e me interrogava sobre minha própria identidade e também sobre o que
seria ser europeu, caiu-me nas mãos e no olhar (não acredito em acasos, mas em
sincronicidades), o seu ensaio “A ideia de Europa” (Gradiva, 2007).
Com estas imprecisas e breves notas, não quero
outra coisa senão dizer o quanto esse intelectual e tantos e tantos foram
importantes na minha trajetória de leitora e ser humano.