Havia, na
manhã desta quinta feira primaveril, uma feira no meio do meu caminho. Saudosa
desse antigo hábito que, por força das circunstâncias e do conforto (? será?)
do supermercado, havia deixado de lado, desacelerei o passo e, sem a
obrigação de carregar sacolas ou abastecer a fruteira, usufrui do passeio, das
cores e dos cheiros com todos os sentidos.
Tímida (ando
assustada com o excesso de "celulares em punho" nas ruas), mas ainda
assim, saquei do meu, pedindo permissão aos respectivos donos das bancas
fotografadas.
Isto aqui, acredite, não é um armazém, daqueles com portas e trancas que há algum tempo viam-se pelos bairros os chamados "secos e molhados" (enlatados, produtos de limpeza, sacaria com grãos a granel, frios). Este "armazém", é montado todos os dias às 5h30 da manhã para, algumas horas depois, lá por volta das 13h00, voltar para as caixas que serão empilhadas no caminhão. Amanhã, e depois e todos os dias vindouros será assim, numa incrível logística que requer criatividade, força, rapidez e muita disposição. Os fregueses são pessoas de um bairro que possui o metro quadrado mais caro da cidade. Como se explica? Saudosismo? Com a palavra os cientistas estudiosos da vida cotidiana.
Mais
adiante... a indefectível barraca de pastéis. Bem, confesso que nos últimos
tempos degustei pastéis na feiras apenas em esporádicas "visitas", quando levo
"turistas" à feira. Mas era hora de almoço, papilas a darem sinais de fome
e... Impossível
resistir. É cultural. Todo paulistano/paulista sabe. Lá fui. Refeição complementada pelo
caldo de cana da indispensável barraca ao lado.
Estômago e
sentidos abastecidos, retomei a caminhada rumo à minha casa, pensando no
fascínio que sempre nutri por mercados e feiras. Lembrei de uma crônica que
publiquei no já distante ano de 1998, que dizia:
" Com
todos os transtornos que acarretam aos moradores das ruas onde são realizadas,
as feiras livres representam ilhas de convívio em plena urbe que,
inexplicavelmente, ainda as mantém. Diferentemente do supermercado, aqui as
pessoas não demonstram pressa. Se
abraçam, param para conversar, sacolas e carrinhos esquecidos atrapalhando a passagem." E assim permanece, inalterável.
Lá pelas
tantas, já cansada, após a caminhada de ida, uma hora de Pilatis e mais a
caminhada de volta, ouço uma voz a me oferecer carona. Era Dulce, amável vizinha
do prédio onde vivo, dois andares acima do meu, que deve ter percebido o passo
claudicante da pedestre. Alegre, aceitei, até porque não são todos os dias que
uma carona nos deixa dentro da garagem da própria casa. Sou uma pessoa de
sorte. (dtv)