Acostumada, por
questões de escolha e personalidade, a
manter-se nos bastidores, distante dos holofotes que, via de regra, ela mesma
projeta no sentido de iluminar a arte daqueles a quem admira, Luzia Maninha Teles Veras é
artista de reconhecido talento, ainda que relute em assumir-se como tal.
Além da
impecável produção gráfica de livros, em especial os de caráter artesanal,
prática a que se dedica há duas décadas, suas fotos frequentemente
chamam atenção pelo inusitado do olhar.
Após muita
insistência de amigos que há anos a instigam a publicar, finalmente torna
público este trabalho, apropriadamente denominado espera, sétimo volume da “Coleção PerVersas – literatura de autoria
feminina”, Alpharrabio Edições, da qual é responsável pela concepção gráfica e
criação manual, desde o primeiro número.
“Bloco de imagens” é como a própria autora
classifica este pequeno ensaio, conjunto de instantâneos de celular. Muito mais que mera
reunião aleatória de imagens, capturadas sempre com muita criatividade e
delicadeza, o que se tem aqui é poderosa narrativa poética que bem poderíamos
chamar de poesia plástica ou, melhor ainda, imagens haicais. Afinal, Maninha
vale-se de ferramentas próprias da artesania do poema, para compor imagens que
se aproximam do poema breve. Concisão e exercício contemplativo aproximam este
trabalho da arte japonesa do haicai, a partir do próprio título que remete à questão
tempo, outra característica do haicai. É
também próprio da língua da poesia, a transfiguração do real em imagem abstrata
ou de múltipla interpretação que, como neste caso, captura o que estava fora e
revela o que estava oculto.
Ao aproximar a
câmera do detalhe, escolher o enquadramento, excluindo o plano geral que a
tornaria concreta, a autora faz com que a imagem passe para o campo abstrato do imaginário. A forma como, cuidadosamente, foram encadeadas as imagens/poemas representa
escolhas de linguagem, a qual sugere e propicia interpretações plurais.
Aquí, o já visto
pelo olhar distraído de tantos, passa a ser visto pela vez primeira,
transmutação pela arte, sem barreira alguma que a defina em gênero ou escola.
À subjetividade de doze imagens
meticulosamente selecionadas, a fotógrafa juntou três instantâneos
figurativos (o primeiro e os dois
últimos) que, sem o facilitismo de apontar ou direcionar olhares ou
interpretações, antes, marcas sugeridas do humano, reforçam e dão consistência à
narrativa.
Não por acaso, o
posfácio de autoria de Deise Assumpção, apresenta-se em forma de poema. Não por
acaso, a imagem na tira da capa revela a claridade da palavra “espera” e mantém
quase diluída, sobre fundo abstrato, a grafia do nome da autora, mestra na arte
da tentativa de desaparição. Nada, portanto, aqui é por acaso. O conjunto foi
pensado, artística e harmoniosamente, como peça única.
De nada (ou de
muito) adiantou o esforço em manter-se atrás das cortinas da arte. Luzia
Maninha, com este pequeno/enorme artefato gráfico/artístico, adentra num caminho
sem volta e fica a nos dever, desde já e sem direito a espera, outros e outros
“blocos”, edifícios inteiros que a sua sensibilidade haverá de revelar e
construir.
dalila teles veras
em tempo: se
difícil foi convencer a publicar, mais difícil é convencer a autora a promover
uma apresentação pública da obra.