Antes que este 29 de abril se finde, quero evocar aqui esta
data em que nasceu e morreu o poeta grego Konstantínos Kaváfis (29 de abril de 1863
– 29 de abril de 1933, Alexandria, Egito).
Nos poucos bocados roubados ao dia de hoje, reli os poemas do
volume Poemas (Seleção, estudo crítico, notas e tradução direta do grego por
José Paulo Paes), Editora Nova Fronteira, 2ª. edição, 1982.
No valioso estudo introdutório, Paes traça um paralelo entre
Kaváfis e Pessoa. O primeiro ponto de contato a ser lembrado é o fato de ambos
terem vivido mais ou menos contemporaneamente em colônias inglesas da África:
um no seu extremo norte, em Alexandria, Egito; o outro no seu extremo
meridional, em Durban, África do Sul e acrescenta: “é particularmente
significativo que tanto a poesia de Kaváfis como a de Pessoa só viessem a ser
conhecidas do grande público após a morte de seus autores” (...) Mas nem por
haverem levado uma obscura existência de burocratas, falta de lances de maior
brilho ou dramaticidade, e nem por ter a sua obra ficado praticamente
desconhecida enquanto viveram, deixaram Kaváfis e Pessoa de ser afinal
reconhecidos como os grandes poetas que são. Tão grandes que não os pôde
prender o círculo de giz das literaturas a que pertencem; eles o ultrapassaram
para se impor no contexto mais rico e mais amplo da Weltliteratur (como Goethe a imaginou)
Muito me impressiona o frescor deste poema que tão bem me “serve”
para hoje. Apreciem
Á ESPERA DOS BÁRBAROS
O que esperamos na ágora reunidos?
É que os bárbaros chegam hoje.
Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?
Os senadores não legislam mais?
É que os bárbaros chegam hoje.
Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as farão.
Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as farão.
Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?
É que os bárbaros chegam hoje.
O nosso imperador conta saudar
o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
um pergaminho no qual estão escritos
muitos nomes e títulos.
O nosso imperador conta saudar
o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
um pergaminho no qual estão escritos
muitos nomes e títulos.
Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?
É que os bárbaros chegam hoje,
tais coisas os deslumbram.
tais coisas os deslumbram.
Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?
derramar o seu verbo como sempre?
É que os bárbaros chegam hoje
e aborrecem arengas, eloqüências.
e aborrecem arengas, eloqüências.
Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?
Porque é já noite, os bárbaros não vêm
e gente recém-chegada das fronteiras
diz que não há mais bárbaros.
e gente recém-chegada das fronteiras
diz que não há mais bárbaros.
Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.
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