Texto originalmente publicado no Facebook:
12 dias licenciada da rede. Uma licença poética, literalmente.
Experiência Detox pela poesia. Poesia
todos os dias, na veia, em doses cavalares.
Retorno porque toda dieta é assim,
provisória. Desintoxica para intoxicar novamente.
Para completar a desintoxicação, desci
a serra. Mergulhar o corpo na água salgada. O costumeiro verde mata atlântica, nesta
época, todo salpicado de rosa e branco (os manacás). Exuberância de Outono.
Eficiência comprovada da receita.
Nesse meio tempo, os deuses
cibernéticos derramaram sua vingança sobre mim e me brindaram com uma épica gripe.
Não tive como evitar uma analogia com os dois personagens de Sarapalha, sua
febre terçã e sua recusa a sair do lugar ("Ir para onde?... Não importa,
para a frente é que a gente vai!.."). Trêmula, pensava neles enquanto
soprava a xícara de chá fervente. Entre tremores e zumbido no ouvidos, entupidos
(eles de quinino, eu de chá de alho com limão), irmãos nas maleitas humanas.
Nesta pausa de silêncio e leituras
notei o seguinte:
- A vida fora do FB é bem menos
frenética. Não se ouvem tantas vozes ao mesmo tempo, as pessoas seguem seu
cotidiano, vão ao supermercado, ao açougue, ao cabeleireiro, à livraria, ao
shopping, trabalham, descansam e a vida urbana segue sem tantos especialistas,
vida feita de gente de carne osso, remelas, coceiras, febres, torções e, claro,
sorrisos e gestos de bem querer.
- O FB pode ser, sim, interessante.
Confesso que senti falta de balizar minhas opiniões com as de gente que
respeito e admiro. Ainda que de maneira um tanto quanto oblíqua, entrei
diariamente por aqui, pois a comunicação via email está gradativamente desaparecendo.
Na suposição de que estamos on-line diuturnamente, as mensagens, em sua
esmagadora maioria, são enviadas pelo "messenger" do FB. Mas resisti
e cumpri a licença à risca.
Termino, com Pe. Antonio Vieira,
relido também nestes dias, que me alertou sobre o Facebook: "A maior graça
da natureza, e o maior perigo da graça, são os olhos. (...) o maior perigo e o maior laço são os olhos
alheios. E por quê: Porque sendo tão natural do homem o desejo de ver, o
apetite de ser visto é muito maior. (...) Tão imortal é nos mortais o desejo de
ser vistos!" ("Sermão da Quinta Quarta-Feira da Quaresma - Pregado na
Misericórdia de Lisboa, no Ano de 1669", in "Sermões",
organização Alcir Pécora, 2 volumes, Ed. Hedra, tomo 1, 2001)