São Petersburgo
As calhas colhem
lágrima do teto,
no braço do rio
riscam um grafito;
nos lábios bambos
do céu inquieto
cravam-se mamilos
de granito
O céu - agora
calmo - ficou claro:
lá, onde prateia
o prato do mar, o
úmido condutor, a
passo lento, leva
o camelo de duas
corcovas do rio Neva.
V. Maiakóvski
Pedro, O Grande, não estava para brincadeira naquele já longínquo ano de 1703, quando decidiu
que ali, às margens do Rio Neva, se construiria uma das mais belas cidades
"europeias".
Pensou, riscou,
projetou e concluiu, dotando a "moderna" cidade de largas avenidas e com
tudo o que o dinheiro e o bom gosto de um Czar poderia comprar e... claro, demonstrar poder, muito poder.
Por fim, deu à cidade o seu próprio nome e dela fez a Capital do Império.
Mais tarde, a
doidivana Catarina II que, dizem, mandou
matar o marido, o doente e infeliz Pedro III, para assumir o trono e tornar-se
Catarina A Grande, Imperatriz da Rússia, deu uma "incrementada" na
cidade. Durante todo o seu longo reinado (mais de 30 anos) foi comprando o que
pôde de obras de arte do mundo todo e, para abriga-las, mandou construir um
anexo ao seu Palácio de Inverno
A ânsia
colecionista real (colecionava amantes e obras de arte com o mesmo ímpeto e
voracidade) resultou no Hermitage, um dos maiores e mais prestigiados Museus de
arte do mundo (perde apenas em tamanho e número de obras, para o Louvre).
A história desse fabuloso
prédio debruçado sobre o Rio Neva é a própria história da Rússia. Intrigas,
desventuras e venturas amorosas, militares conspiradores, assassinatos, guerras
e festas, muitas festas percorreram e preencheram seus fabulosos salões e
galerias.
Percorrer suas luxuosas
e deslumbrantes dependências é também percorrer a história da humanidade,
contada através de um impressionante acervo pictórico e escultural que vai de Leonardo
Da Vince e desemboca na atualidade, sem contar as raridades arqueológicas
egípcias e outros tesouros.
São Petersburgo (ex-Petrogrado, ex-Leningrado) é também, por vocação e fatalismo histórico, além de importante centro cultural, uma "cidade literária". Cantada em verso e prosa, ambientou romances de Dostoiévski, contos e peças de Gógol, poemas de Maiakóviski, Anna Akhmátova, Pushkin, Mandelstam e tantos outros gigantes. A nata da intelectualidade russa passava por seus famosos "cafés literários".
E os mais "desesperados" matavam-se, como o fez o jovem Iessiênin, em 1925, num quarto deste Hotel
O palco do Teatro
Mariinski desde 1783, abriga/abrigou desde o mítico Ballet Kirov a estreias igualmente míticas, como peças de Tchaikovsky e muitos outros.
23h e uma "noite branca" à saída do espetáculo/ópera do Balé Kirov "Spartacus" (à esquerda o velho Teatro à direita o novíssimo Teatro. Aqui o novo jamais mata o anterior, mas junta-se a ele. |
Estar aqui, percorrer suas ruas, olhar a cidade e seus palácios de dentro do rio, é mergulhar em velhos alfarrábios e penetrar num mundo imaginado, agora absurdamente real, palpável, percorrível.
"Fiquei ali - eu me lembro
Havia aquele brilho.
E aquilo
então
Nenhum comentário:
Postar um comentário