terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Rito de Passagem


Eles eram muitos. Certamente todos belos e no frescor do aprendizado, na alegria das descobertas. Alfabeto decifrado, celebravam a passagem para o aprendizado formal. Dançavam e cantavam. Eles eram muito, mas aos meus olhos, eram UM!


Um pequeno ser que ali se agigantava, ser que embalei e com quem estabeleci comunicação desde a primeira troca de olhares, em memoráveis silêncios transcendentais ao som de Mozart e Albinoni. Meu neto Filipe ali estava (formando), as primeiras letras galgadas, a primeira infância cumprida, rumo à sagrada missão do conhecimento vindouro. Agora "diplomado" e um dos oradores da turma.


Meu neto Filipe ali estava (formando), as primeiras letras galgadas, a primeira infância cumprida, rito de passagem rumo à sagrada missão do conhecimento vindouro. Agora "diplomado" e um dos oradores da turma.




Eram um, que se agigantava e embaçava meu olhar. (dtv)

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Conversas recentes sobre poesia e cultura

Abaixo, links para conversas recentes minhas com gente interessante, sobre poesia, cultura e correlatos:

Arteletra Literatura - Caderno inquieto & Estranhas formas de vida (dtv e Tarso de Melo)

Arletra Literatura

http://www.youtube.com/watch?v=Fqv5rQ5Z-tk


Programa Cultura.com na Web TV Uptv, entrevista a Chico Cabrera:

Cultura.Com


Relato de Experiência no GT

Encontro da Diversidade Cultural do ABC
 

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Benedetti, mais um


Hoje, na minha caminhada matinal, topei com um canteiro de miosótis, delicada florzinha também conhecida por "não-me-esqueças", em plena floração primaveril, oferecendo azuis aos passantes.
Lembrei imediatamente de um poema de Mario Benedetti. Aproveito o ensejo para dar continuidade à promessa de publicação de mais poemas que traduzi do poeta uruguaio e que permanecem inéditas. Lá vai:

NÃOMEESQUEÇAS

Cultivei um longo poema
Que ainda que se prodigalizasse em seus gerânios
em pouco tempo perdeu o viço

cultivei outro com jasmins
frágeis caseiros e insondáveis 
porém se desprenderam como flocos de neve

e cultivei outro mais
que era um cerco balsâmico de rosas
porém murcharam sem grandeza

por fim tive um harém de nãomeesqueças
e não posso esquecê-los porque colam

azul em minha memória

NOMEOLVIDES

Tuve un largo poema
que aunque se prodigaba en sus malvones
al poco tiempo se quedó sin rojo

tuve otro con jazmines
frágiles hogareños e insondables
pero se descolgaron como copos de nieve

y tuve alguno más
que era um cerco balsámico de rosas
pero se marchitaron sin grandeza

por fin tuve un harén de nomeolvides
y no puedo olvidarlos porque añaden
azul a mi memoria

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Viagem ao meio do mundo

Dentro do meu projeto de conhecer todas as 27 capitais brasileiras (agora só faltam 5), visitei, desta vez, a cidade de Macapá (na língua Tupi "o lugar da chuva" ou no dialeto nheegatu, "terra que acaba"), capital do Estado do Amapá. extremo Norte do país.



Confesso que foi uma emoção grande ver com olhos de ver e sentir as águas escuras do Rio Amazonas, assistir ao ir e vir das ondas e marés desse mar de água doce


observar a placidez de sua vida ribeirinha. Aqui, as águas regulam a vida


a vida no ritmo das águas


Outra interessante experiência, foi, no local assinalado (um belo monumento denominado Marco Zero), poder "imaginar" que estava com um pé no Hemisfério Norte e outro no Hemisfério Sul ou, melhor ainda, "no meio do mundo", Latitude 00°, nem mais nem menos!


Assim como o monumento, o estádio de futebol Milton Correa, conhecido como "Zerão", foi construído de tal forma que essa linha imaginária o divide ao meio o que significa que, numa partida de futebol,  cada time joga num Hemisfério diferente.


Outro dado curioso: não existe ligação ferroviária nem rodoviária com Macapá, Só se pode chegar lá por barco ou avião. O rio, o grande Rio Amazonas, a separa do Continente (ou, melhor,a une ao Continente, já que ali, culturalmente, o meio natural de transporte é o fluvial). Outro dado interessante:  a partir de meados dos século XIX, quando o Marquês de Pombal ordenou que ali, à entrada do Rio Amazonas fosse construída uma fortificação, o Amapá era apenas uma cidade que, somente a partir de 1943, foi transformada em Território. Finalmente em 1988, quando da nova Constituição Brasileira, o Amapá tornou-se um "estado" da Federação. Assim, o Amapá é um jovem estado brasileiro de apenas 25 anos. O total da população do Amapá é de 735.000 hab., dos quais 60% estão na Capital. Só para dados de comparação, minha cidade de Santo André, que pertence à região metropolitana de São Paulo, possui quase a mesma população daquele estado, só que numa extensão territorial totalmente desproporcional, ou seja, o Amapá, com seus 16 municípios, abrange uma área de 142.814 km2 e Santo André, um dos 645 municípios do Estado de São Paulo, tem uma área de apenas 175 km².O jovem estado brasileiro, na realidade, permanece em (quase) tudo, na condição de "território", posto que depende economicamente da União. Tive certeza disso quando, ao chegar, perguntei ao taxista (eles são sempre o grande "estetoscópio" das cidades) o que impulsionava a economia ali e ele secamente respondeu: o "contracheque", ou seja, o salário do maior empregador, o governo federal. A saída possível, seria um grande investimento em turismo que, lamentavelmente, está longe de existir. Atrações e exotismo para oferecer ao visitante é o que não falta.

Este louco Continente chamado Brasil, único, mas tão diverso em sua singularidade, desproporcional e ainda longe de ser igualitário socialmente, está, como se vê, ainda a ser construído. Lentamente se construindo e reinventando e é justamente isso que o  torna fascinante e desafiador. 

Fico por aqui, ainda que haja muitas outras curiosidades e atrações para serem contadas e apontadas, como a maravilhosa Fortaleza de São José







Estas admirável construção, erguida em 1764 


 e em boa medida, com sua edificação original



abrigando dentro de suas fabulosas muralhas, uma verdadeira "cidade"
Muito haveria para dizer do Museu Sacaca do Desenvolvimento Sustentável


e seu ambiente "cenográfico" da vida local (indígena, folclórica, urbana...) que interage com a comunidade e chama para "mostrar" suas culturas


o Quilombo de Curiaú, seu balneário e a criação "comunitária" de búfalos


o Porto de Santana e a azáfama de carregamento de mercadorias, como o açaí



o Balneário de Fazendinha (sim, essa "praia" com ondas é mesmo um rio, O grande Amazonas:


nos arredores da cidade, onde chegamos conduzidos por nosso "anjo protetor da floresta urbana macapaense", o primo/amigo Eider 





saboreamos um indescritível  "camarão no bafo"





e... e... mas fico por aqui, esperando ter respondido àqueles que me perguntam: Porque "passear" em Macapá?

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Janelas

Olhar de dentro pra fora





de fora pra dentro





de cima pra baixo





haverá sempre uma janela para o mundo, basta estar vivo e aberto a alteridades.

Logo mais contarei o que vi (ou imaginei ter visto) através delas. (dtv)

domingo, 20 de outubro de 2013

Mario Benedetti - memória e esquecimento

Tempos atrás, andei empenhada em traduzir poemas de Mario Benedetti.  Cheguei a publicar na revista A Cigarra alguns deles e deixei na gaveta (ops! no arquivo do word) muitos outros, talvez por conta da insegurança (traduzi, como se sabe, é trair e... daí o temor). Ontem, revolvendo esses arquivos deu-me vontade de voltar à tradução. Antes, a título de "teste" deixo aqui um deles (tradução inédita), a ver se resiste à leitura crítica de alguns dos meus eventuais leitores. Se der certo, publicarei outros:

HAVIA ESQUECIDO

Havia esquecido do carnaval e suas matracas
das insônias depois de cada prova
dos barriletes com lâminas de barbear
dos seus trezentos soldadinhos de chumbo

havia esquecido das tardes no rio
dos cavalos que desenhava com crayon
da primeira ereção / o primeiro salário
dos imundos bordéis na fronteira

havia esquecido da formosa pequenina
violada por seus milicos subalternos
do vômito rubro daquele estudante
que não estava disposto a delatar
desnudo em seu pouco de consciência
da surdez das árvores avós
quando ele passava assobiando ou soluçando

porém um dia o temporal da memória
caiu sobre sua calva tão lustrosa
e sentiu o incômodo de já não ser
o gurizinho de velhas primaveras
de saber-se um órfão de amores
um náufrago de pátrias um ausente

e o assaltou a cruz dos indigentes
a pele da violada que não pôde chorar
as máscaras que imitavam seu rosto
e o embuste o banhou aos borbotões
a purulência de sua vida de cruel
e praguejou longa e tartamudamente
diante do esquecimento, o intratável esquecimento
quando o viu tão cheio de memória

SE HABÍA OLVIDADO

Se había olvidado del  carnaval  y sus matracas
de los insomnios después de cada examen
de los barriletes con hojas de afeitar
de sus trescientos soldaditos de plomo

se había olvidado de las tardes en el rio
de los caballos que dibujaba con crayolas
de la primera erección / el primer sueldo
de los mugrientos quilombos en la frontera

se había olvidado de la preciosa chiquilina
violada por sus milicos subalternos
del vómito rojo de aquel estudiante
que no estaba dispuesto a delatar
del nudo en su poquito de conciencia
de la sordera de los árboles abuelos
cuando él pasaba silbando o sollozando

pero un día el chaparrón de la memoria
cayó sobre su calva tan lustrosa
y sintió el bochorno de ya no ser
el gurisito de viejas primaveras
de saberse asimismo un huérfano de amores
un náufrago de patrias un ausente

y lo asaltó la cruz de los menesterosos
la piel de la violada que no pudo llorar
las máscaras que imitaban a su rostro
y lo bañó el embuste a borbotones
la purulencia de su vida de cruel
y puteó larga y tartajosamente
ante el olvido el intratable olvido
cuando lo vio tan lleno de memoria


Mario Benedetti nasceu em Paso de los Toros (Departamento de Tacuarembó) Uruguai, em 14 de setembro de 1920 e faleceu em Montevideu em 17 de maio de 2009. A família mudou-se para Montevidéu quando ele tinha 4 anos, cidade em que passou toda a sua vida, excluindo-se um longo exílio de 12 anos (vividos na Argentina, Peru, Cuba e Espanha).

Autor de mais de 60 livros (romances, novelas, teatro, ensaios e poesia), traduzidos em mais de 20 idiomas,  é considerado um dos grandes nomes da literatura hispânica do Século XX, com uma bagagem considerável de prêmios mas, inexplicavelmente, ainda muito pouco lido e traduzido entre nós. Com exceção de alguns romances publicados no Brasil, como o excepcional A Trégua, com duas traduções brasileiras diferentes, a sua poesia só veio a ser editada em livro no Brasil em 1988 (Antologia Poética, tradução de Julio Luís Gehlen, Editora Record). Ele próprio, considerava-se antes de tudo um poeta, gênero onde, seguramente, realiza a sua melhor escritura. Este poema integra o volume “El olvido está lleno de memoria”, de 1994, no qual, o poeta mantém a fidelidade ao coloquialismo antilírico, uma linha já apontada no seu primeiro livro de poesia “Poemas de la oficina”, de 1956.

sábado, 12 de outubro de 2013

São... São Paulo...

Um dia na cidade de São Paulo é uma volta ao mundo. Mundos (verdes, concretos, ligeiros, lentos, claros, escuros, obscuros, brilhantes, cosmopolitas, provincianos). Não é de hoje. Esta cidade cabe feito luva na mão da poesia. Mário de Andrade, o mais paulistano de todos os paulistanos, vestiu-se dela. Hoje, ao olhar a cidade de um ângulo nunca visto antes (o 8º andar do prédio projetado por Niemeyer no Ibirapuera que, concebido para outros fins, abrigou, incompreensivelmente, por muitos anos o Detran e sua burocracia, mas que, para bem da cidade, hoje é tomado pelo precioso acervo do MAC USP), não pude evitar lembrar de Mário e de sua poesia. Difícil fazer poesia sobre São Paulo depois de Mário. Então, fotógrafa amadora e desajeitada que sou, "olho" digitalmente esta cidade e a ilustro com os versos de Mário que falam muito mais dela dos que as toscas imagens (mas foi o que pude...).

"São Paulo! comoção de minha vida…
Galicismo a berrar nos desertos da América!"




"verde, verde, verde!…
Oh! minhas alucinações!"





"A manhã roda macia a meu lado
Entre arranhacéus
de luz"



"Busquei São Paulo no mapa,
Mas tudo, com cara nova,
Duma tristeza de viagem,
Tirava fotografia…"




"Meu pensamento é talequal
São Paulo, é histórico
[e completo,
É presente e passado e dele nasce meu ser verdadeiro…"




Do lado verde à colina - travessia. Anoitece na paulista Paulista, onde há um século vieram residir os barões do café. Hoje, os "barões" do capital armazenam e contabilizam seus lucros e a transformam no ex-libris da megalópole progressista deste século XXI.
Mais um dia de conviver amoroso com esta cidade áspera, enigmática, fascinante, hostil e bela. (dtv)


quinta-feira, 10 de outubro de 2013

As Janelas de Margarita Lo Russo



"Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?"
Carlos Drummond de Andrade

Há 30 anos acompanho com interesse e admiração a produção artística de Margarita Lo Russo, extraordinária artista argentina que residiu em Santo André nos anos 80 e hoje vive em Buenos Aires, onde nasceu. No Brasil, atuou junto ao Grupo Livrespaço de Poesia e, como ilustradora, colaborou com o Diário do Grande ABC e emprestou sua arte a inúmeras capas de livros e revistas. Publicou no Brasil o livro de poemas "Das Profundas Raízes". Atualmente, além do desenho e da collage, dedica-se à ficção. Possui alguns livros inéditos de contos, gênero pelo qual passeia com extraordinária desenvoltura. 


Em sua recente visita ao Brasil, deixou-me estas maravilhas, que compartilho com entusiasmo e a convicção de que sua arte (plástica e literária) precisa ser mais conhecida e estudada entre nós. 



Nada mais oportuno para uma "janela" como esta, debruçada sobre os dias e o estado da arte, receber estas enigmáticas e belas janelas, voltadas para mundos reais e imaginários. Janelas comprometidas com a arte, mas também com as mazelas sociais



Janelas libertárias e libertadoras, janelas/portas para a percepção e a beleza, janelas para o sonho e para a reflexão.


À minha janela, janelas que significam, janelas caminhos... Homenagem à sensibilidade de quem pinta por necessidade absoluta de expressão, destino ao qual não consegue escapar e que, na sua modéstia, nada reivindica, apenas oferece... Bem haja Margarita e sua arte!

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Enfim, a Primavera

Setembro foi um mês que durou anos. Setembro sem Primavera nem sol, nem cor, nem nada. Só o azul dos jacarandás do meu bairro e seu perfume a Funchal e à memória da infância me salvaram, além de intermináveis conversas com uma amiga querida que há muito não via (ainda que em circunstâncias adversas).
Ainda é Primavera e é tempo de renovação e retomadas. Retornar a esta janela é preciso. Careço. Então retorno.
Ouço António Zambujo enquanto escrevo e a linda voz do alentejano suaviza as dores do corpo (as da alma, o tempo, o tempo...).





 
A Mostra Internacional de Cinema já começou em São Paulo com a bela exposição  Manoel de Oliveira: Uma História do Cinema,  no Instituto Tomie Ohtake e é uma bela forma de se preparar o espírito para a angústia de não conseguir sequer escolher entre tanta oferta, quais os 3 ou 4 filmes que eventualmente poderei ver. Excesso, sempre o excesso.
Manoel completará em dezembro próximo 105. História viva do cinema e da história de seu país, Portugal. O cineasta é homenageado com esta interessantíssima exposição que o Museu Serralves, do Porto, envia ao Brasil. Que ninguém espere aqui o óbvio que seria esperado numa exposição desse gênero.





A exposição são os filmes projetados nas paredes e em espaços especialmente criados para eles. Fragmentos de seus filmes, nada aleatórios, que agrupam particularidades de uma filmografia com exatos 54 filmes. A relação de Manoel com a literatura é seu maior leitmotiv. Eça, Camilo e Agustina não foram exatamente "adaptados", mas são parte intrínseca de seus filmes, estão lá impressionantemente "inteiros", mas há outros motivos recorrentes, como a pintura e o teatro. Mas é a palavra, sobretudo a palavra que dá "corpo" às imagens moventes de Manoel.
Esta foi uma bela maneira de iniciar a semana e o retorno ao blog. (dtv)


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Jornal de Viagem X - No Reino da Dinamarca - Parte final

Antes que agosto acabe, fecho aqui o jornal de viagem e tentarei "sair" da viagem que em mim permanece, mesmo depois de um mês da chegada a Ítaca. Urge (re)começar a pensar em outras, inclusive as de ordem literária.

Após termos atravessado, de ferry, o estreito de "Öresund", chegamos a Copenhagen, capital do Reino da Dinamarca. A atual Rainha, Margrethe II, ao que parece, muito popular e estimada pelos habitantes das terras Vikings, inclusive por seus dotes intelectuais e artísticos (possui trabalhos como ilustradora, designer de cenografias para teatro e indústria textil, bem como traduziu obras literárias do francês).



Na cidade das bicicletas, não se poderia esperar outra coisa: congestionamento de bicicletas



Bicicletas para trabalhar, para passear, para alugar, bicicletas táxi



Como em toda cidade "turística", inevitável escapar dos "cartões postais", como o sedutor Castelo Kronborg, conhecido por Elsinor (localizado em Helsingor, cerca de 40 km do centro de Copenhagen) onde uma das mais famosas tragédias de Shakespeare, a do infeliz e trágico príncipe deste reino, é ambientada ("Em Elsinore ao contrário o mal era um veneno / Subtil / Invadia o ar e a luz - penetrava / os ouvidos as narinas o próprio pensamento / O amor era impossível e ninguém podia Libertgar-se", Sophia de Mello B. Andresen). O castelo tem sido palco para muitas representações da peça Hamlet, inclusive para marcar o 200° aniversário da morte de Shakespeare. Assim como também é impossível escapar do mais famoso escritor dinamarquês, Hans Cristian Andersen,  largamente cultuado em toda a cidade de Copenhagen.








Muito menos ainda "escapar" (e quem deseja?) da escultura a pequena sereia (Den Lille Havfrue, de autoria de Edward Eriksen, em 1913). Localizada à beira mar nas proximidades do Porto, tornou-se um símbolo, verdadeiro ex-libris da cidade, muito procurada por turistas. Impossível não ficar comovida diante da força do imaginário literário, que tem a capacidade de transformar em real um criações do imaginário.




Pelo fato de ser esta a segunda vez que visitamos a cidade, pudemos nos dar ao luxo de  evitar alguns dos seus clichês (sempre imprescindíveis e inevitáveis de uma primeira vez) e tentar encontrar atrações menos concorridas, nesta tranquila cidade, capital de um país considerado o país com menor índice de desigualdade do mundo e com um altíssimo nível de bem-estar social. Assim, pudemos ver uma bela exposição sobre os Vikings, no Museu Nacional



luz, som, projeções, ambientação estonteante (a simulação da navegação de um barco Viking chega a provocar enjôo de tão real).



e interessantístimos objetos de achados arqueológicos do Século VIII



Outra mostra que valeu a pena foi "Degas´Metode", ou seja, exposição de caráter "didádito" sobre o método de trabalho e crição do impressionista Degas,



no acolhedor museu de arte Ny Carlsberg Glyptotek (esse Carlsberg é mesmo o que você está pensando - o Museu foi fundado a partir da coleção de um filho do dono da famosa fábrica de cerveja)




E, por fim, a descoberta maior, a novíssima Biblioteca, conhecida pelos locais como Diamante Negro, pelo fato de ser revestida de granito preto polido.




Este incrível edifício, projetado  por Schmidt, Hanner & Lassen, é um anexo da Biblioteca Real da Dinamarca, e está ligado em perfeita harmonia ao edifício antigo por passarelas aéreas para pedestres. 



Localizada na avenida que margeia o Porto, conta com um auditório para concertos com 600 lugares, salas de exposições (tivemos oportunidade de visitar uma delas, sobre o filósofo dinamarquês Kierkegaard. Aqui, alguns de seus originais (quanto fascínio exercem essas cadernetas, ainda que não se possa decifrar nada ali): 



Livraria (Deus meu! quanta tentação), restaurante e café




Do interior, esta vista deslumbrante para o estreito de Öresund e os antiquíssimos edifícios à margem


 um lugar para "morar", permanecer ali por tempo indeterminado, flanando entre o mundo antigo e o que há de mais moderno (são disponibilizados ao público computadores com acesso gratuito à Internet, sem qualquer espécie de burocracia. A qualquer momento é possível encontrar um deles livre, pois os há em grande quantidade, em todos os cantos da Biblioteca).


 O dia finda (ou melhor, nesse horário, o dia ainda está longe de acabar) sob uma inacreditável (pelo que se pode deduzir na "intervenção" feita no relógio, não foi só eu que duvidei) temperatura de 27 graus centígrados no frio reino da Dinamarca. Nada mal para uma noite de despedida. (dtv)