Gosto de estabelecer uma
certa "agenda mínima" no primeiro dia de cada ano. Uma espécie de
disciplina para poder, de alguma forma, canalizar melhor as energias criativas
e vitais (que, diga-se, já lá vão diminuindo).
Isso não significa que estabeleça
metas à maneira do mundo da economia e dos negócios. Jamais. Também não
confundir "agenda mínima" com lista de "desejos" materiais,
como "ganhar mais dinheiro" com a única finalidade de comprar mais, mesmo que sejam objetos fetiche. Nada disso (com o passar do tempo cada vez tenho
menos desejos materiais e muito menos "necessidades"). Tenho mais do
que pedi ou almejei, até porque não pedi nem almejei nada, fui fazendo o
caminho ao andar.
Falo de uma agenda mínima no
plano das ideias,. Tem sido assim com meus últimos livros, com os blogs. Este À
Janela dos Dias, por exemplo, foi aberto em 1º de janeiro de 2009 e desde então
se mantém. Hoje não tão ativo quanto naquele primeiro ano quando,
rigorosamente, postei diariamente (nem um só dia sem uma linha). Seria a
"concorrência" com o Facebook, ativado desde 1º de janeiro de 2012?
ou a tal energia vital diminuída?
O fato é que tenho gostado muito
de estabelecer certos projetos que nem precisam nascer tão
"rigorosos" mas que acabam por materializar-se e cumprir-se se
levados com uma certa disciplina.
Contrariando a norma (não escrita
mas com validade tácita) de que no Facebook só valem textos breves, acabo de
publicar na rede este texto, que diz de um desses itens da "agenda
mínima" no último ano. Reproduzo-o aqui, pelo fato de que o blog é menos
"volátil", podendo mais facilmente um texto ser localizado mesmo
decorrido algum tempo.
"Em forma de balanço e votos
Apesar de transitar pelo mundo
virtual há quase duas décadas, percorro suas infovias com uma lentidão, via de
regra, não compatível com o meio. Ainda assim, não deixo de avançar. Blogueira
desde 2006 (Blog Alpharrabio, agosto 2006, e, posteriormente, meu blog pessoal,
À Janela dos dias, em 1º/01/2009). Entretanto, relutei bastante em aderir à
rede social. Primeiro, como pessoa física (A Livraria Alpharrabio, sempre o
laboratório da experiência). Finalmente, após um ano de observação, há
exatamente um ano, ingressei no facebook.
Os que me acompanharam e me deram
a honra da interação, perceberam que não entrei aqui para exercer o papel de
voyeur. Antes, opinei, critiquei, elogiei, curti, ignorei, postei crônicas e
poemas, fiz política (jamais com vinculação partidária, mas no sentido
socrático do termo, sempre com vistas ao exercício dialético e da vivência como
pólis). Enfim, acredito, "fiquei em rede", o que, pra mim, é o verdadeiro
espírito da coisa. Longe de um perfil "fake", o meu reflete o que sou
e penso e, é claro, isso tem um preço. Assumi e resolvi pagar (algumas vezes,
inclusive, fui "barrada no baile").
Mas o fb tem sido também uma boa
experiência literária como a que vivenciei ao postar diariamente, um texto
retirado do meu livro "Diuturnos" (Alpharrbio Edições, 2013).
Rica experiência da palavra: textos escritos há 13 anos, muitas vezes anotados
originalmente à mão, em cadernetas de bolso, a seguir digitados no computador onde
repousaram por 12 anos em binária escuridão para, novamente, voltarem para o
papel em formato de livro. Do livro e da utopia da página impressa, para a tela
do computador, da forma como foram escritos, em doses homeopáticas diárias
Escritos em 365 dias no ano 2000, publicados em 365 dias do ano 2013. E como,
sabemos, a história anda em ciclos, na pressa deste caminho veloz, muitos dos
leitores diversas vezes confundiram o texto (literário) escrito há mais de uma
década, como texto escrito "no calor da hora" do dia em curso. Foi
divertido e gratificante, ver a palavra saltar por tantos suportes para, enfim,
diluir-se neste dia a dia maluco, esquizofrênico e acelerado mundo virtual.
Repetindo a experiência da publicação
diária do texto integral do meu livro Diuturnos aqui no FB nos 365 de 2013,
passo, a partir de hoje, a título de "agenda mínima", publicar o meu
diário (quase íntimo) do ano 2013 que, diferentemente daquele, está manuscrito
e inédito. A ideia é de que funcione como uma espécie de
"retrospectiva" pessoal do ano passado. Eis aqui o primeiro de
janeiro de 2013:
janeiro 01, terça
A desordem externa :
Promessa de ordenação
Interna?
Aqui vivo
Aqui escreverei 2013"
Além desta tarefa da tal da
agenda mínima, há muitas outras em intenção, como a de terminar um livro
iniciado no primeiro semestre de 2013 e interrompido a seguir por causas alheias
à palavra.
Ah... e há também a intenção de
não deixar abrir esta janela ao menos uma vez por semana.
Que 2014 nos faça cada vez mais
curiosos, criativos e combativos, cidadãos por inteiro. Que a dialética, a
alteridade e a tolerância prevaleçam sobre a arrogância do pensar saber tudo.
Que a ganância e o ódio de classes seja banido definitivamente do planeta. Que
a grandeza do repartir substitua a vileza do acumular. (dtv)