No último dia 03 de agosto, quinta-feira, com
chamada de primeira página e grande destaque, o Diário do Grande ABC noticiava
a realização da FLISA – Feira Literária de Santo André, nos dias 17 a 20 deste
mês. O homenageado será o escritor Ariano Suassuna. Sua vida e obra norteará,
segundo a matéria, todas as atividades. Esta foi a forma com que a população
tomou conhecimento do evento e que dava como já “pronta” uma programação que
incluía, entre outras coisas, “mesas de debates sobre literatura com autores
locais serão montadas”.
A matéria só não informou que a
Prefeitura de Santo André, através de sua Secretaria de Educação, pagará o
montante contratual de 3 milhões e 375 mil reais para uma empresa de montagem,
quantia essa muito superior ao que gastam grande feiras internacionais como a
FLIP.
Na parte da tarde desse mesmo
dia, produtores culturais questionavam nas redes sociais o fato de apenas a 14
dias da abertura, a Feira estava apenas com um esqueleto. Se não estou
enganada, a primeira a levantar uma série de questionamentos foi a premiada
escritora Vanessa Molnar, em um contundente texto publicado em sua tl do FB.
Dirigia-se aos escritores. Sob o
argumento de que, apesar de ser a “vida literária da nossa cidade histórica,
diversa e riquíssima, nenhum escritor da região, de Santo André ou
representante cultural de editores e produtores terem sido convidados. E passa
a relacionar boa parte de pessoas e espaços culturais, “uma riqueza, que os
burocratas ignoram e que não dá para citar aqui sem cometer nenhuma injustiça”.
Referia-se também ao espantoso tempo recorde de um edital com esse valor tão
alto, organizado por uma pessoa que não tem nenhuma relação com a região e “faz
questão de não ter, já que nem a Secretaria de Cultura, que poderia buscar a
construção conjunta com os artistas locais, sequer sabia do evento”.
A repercussão foi larga e
imediata, com opiniões indignadas que dão conta de que “alguns escritores”
haviam sido convidados a participar, mas sem cachê. A indignação fez-se
presente.
Curiosamente, no dia seguinte ao
da matéria de jornal e do artigo de Molnar, recebi um convite/sondagem
“informal” do curador da Feira, Reynaldo Bessa, que sugeria que eu mesma
“montasse uma mesa com 2 escritores e um mediador, um deles seria eu. A mesa
daria conta da “atual cena literária no ABC”. Esse convite, que oferecia R$
1.000,00 a cada escritor e R$ 600,00 ao mediador, me foi enviado
amadoristicamente, através de um áudio de cinco minutos, no WhatsApp. Pedi que
o mesmo fosse formalizado por escrito (via email) o que foi feito apenas na
noite do último domingo, dia 06.08. (a 11 dias da realização da feira). O
convite veio também para a livraria e editora Alpharrabio, que dirijo há 31
anos, cujo catálogo prioriza a literatura de autores natos ou residentes na
região, oferecendo um estande, especialmente cedido. Fato curioso é o desse
curador sugerir, transferindo seu papel, para que eu “organize” a mesa,
"convidando mais dois escritores", demonstra que isso não estava nos
planos, mas agora... Não respondi e esperei para dar uma resposta alinhada com
a comunidade.
Dada a enorme quantidade de
pessoas que pautaram o assunto em suas postagens nas plataformas Instagram e
Facebook, um grupo de mais de 50 pessoas passou a se reunir no espaço virtual e
o que vem sendo apurado a respeito é da maior gravidade.
Fazendo coro com a comunidade, o
vereador Ricardo Alvarez, encaminhou na sessão desta terça-feira da Câmara
Municipal um requerimento de informação à Prefeitura Municipal, listando
praticamente todos os questionamentos até aqui levantados pela comunidade. O
assunto também foi levado ao Fórum de Cultura em sua sessão de ontem,
segunda-feira.
NOTA FINAL: é claro que todos nós gostaríamos de
uma Feira ou Festival do livro na cidade, mas não dessa forma que suscita
tantos questionamentos, até o momento sem resposta. Afinal, com uma população
de 748 mil habitantes, a cidade nada fica a dever a algumas capitais do país,
inclusive em pujança econômica. Sim, uma Feira limpa e transparente que
contemple a enorme diversidade de culturas (sim, no plural).
Aguardamos, assim uma resposta
do senhor Prefeito Municipal, Paulo Serra, que seja clara e ofereça respostas
satisfatórias.
Quanto a mim, respondo publicamente aquilo que meu silêncio já disse, NÃO aceito! Sei que não vou por aí. dtv