NESTES ÚLTIMOS TEMPOS
Nestes
últimos tempos é certo a esquerda fez erros
Caiu
em desmandos confusões praticou injustiças
Mas
que diremos da longa tenebrosa e perita
Degradação
das coisas que a direita pratica?
Que
diremos do lixo do seu luxo – de seu
Viscoso
gozo da nata da vida – que diremos
De
sua feroz ganância e fria possessão?
Que
diremos de sua sábia e tácita injustiça
Que
diremos de seus conluios e negócios
E
do utilitário uso dos seus ócios?
Que
diremos de suas máscaras álibis e pretextos
De
suas fintas labirintos e contextos?
Nestes
últimos tempos é certo a esquerda muita vez
Desfigurou
as linhas do seu rosto
Mas
que diremos da meticulosa eficaz expedita
Degradação
da vida que a direita pratica?
julho 1976
Sophia
de Mello Breyner Andresen, Porto 1919 – Lisboa 2004, a maior poeta portuguesa
do Século XX, quiçá de todos os tempos. Ocupa um lugar definitivo no Panteão
Nacional, onde seu corpo repousa, não por acaso, ao lado do de Amália
Rodrigues, a maior artista portuguesa do Século XX e de todos os tempos. Duas
gigantes. Duas vozes. Únicas mulheres ocupantes daquele Monumento dedicado a
grandes vultos. Amália foi a primeira, seguida de Sophia, a “profanar” esse
reduto masculino. Ambas quebraram
paradigmas culturais.
(este
poema integra O NOME DAS COISAS, Obra poética, Editorial Caminho, 2004