Raro é pra ti e pra mim,
Sobre a terra triste e fria
A pobre terra do Norte" (*)
Suomi, cujo
significado é Terra dos Mil lagos ou Finlândia, para nós, povos de língua originária
do latim, é um país a poucos quilômetros do Ártico Polar, onde está situado um
terço de seu território e que muito me encanta por sua tortuosa história que
resultou numa cultura bastante peculiar.
Esta é a segunda
vez que visito Helsinque, sua Capital, agora com um referencial literário que
não tinha à época: a Kalevala, poema épico, equivalente à Ilíada, de Homero ou aos
Lusíadas, de Camões, que li numa tradução em espanhol, adquirida lá mesmo, naquela
primeira visita, há 14 anos.
Sob domínio sueco
por mais de 3 séculos (1500 a 1809) e posterior domínio russo (na condição de
Grão-Ducado, com alguma autonomia), os filandeses tiveram o latim e o sueco
como línguas associadas à sua educação e cultura, sendo que o finlandês permanecia considerado como língua do povo
iletrado.
Até que em 1835, é
publicado o longo poema (12.000 versos), denominado Kalevala (que em
finlandês significa "a terra de Kaleva" ou segundo outros "o
país dos heróis"), canções e versos populares da tradição oral, recolhidos
por Ellias Lönnrot (1802-1884) em todo o país e por ele compilados e arranjados,
inclusive com versos de sua própria autoria. Animado com o enorme êxito da
obra, Lönnrot prosseguiu suas investigações e publica, 14 anos depois, o que
seria a obra definitiva, com o dobro de versos, 25.800, em 50 cantos. Essa obra
viria se transformar não só no mito fundador da literatura finlandesa, como a
grande referência cultural de língua finlandesa, forjando, com a força de seus
mitos e de sua literatura, a própria identidade do país, a ponto de influenciar
fortemente seus maiores artistas, como o compositor Jean Sibellius (ele próprio outra referência nacional) que deu a
várias de suas obras nomes dos heróis da Kalevala.
Pohjola: "Terra do Norte" referida na Kalevala |
Foi com essa
referência que percorri as ruas da acolhedora e simpática Helsinque, percebendo as marcas literárias em
seu cotidiano. Desta vez, com um "troféu" embaixo do braço: uma bela
edição portuguesa, em versos (a espanhola é em prosa) de Kalevala, traduzida
por Orlando Moreira (Ministério dos Livros, Lisboa, 2007), adquirida lá mesmo,
numa de suas incríveis livrarias onde há uma sessão especial só para essa obra,
com traduções em dezenas de línguas. Viva! No Brasil, curiosamente, esta obra
ainda é muito pouco conhecida. Em 2009,
de forma tímida, a primeira notícia brasileira da obra: um volumezinho
publicado pela Ateliê Editorial, com o primeiro canto, bilingue (no qual é narrada a
criação do mundo e o nascimento do personagem central, Väinämöinen), traduzido Álvaro Faleiros e José Bizerril, com um excelente estudo introdutório, assinado por Vizerril. Aguardemos, pois, a obra completa por aqui,
que já tarda.
temos no entanto um ao outro
por estas pobres fronteiras,
nas tristes terras do Norte" (**)
E como tradução tanto pode ser considerada "transcriação" como "traição", comparemos essas duas estrofes: a primeira (*) na tradução portuguesa e a segunda (**) com o "sotaque" da tradução brasileira. Fico com as duas, já que a original está muito distante do meu pobre alcance. (dtv)
É sempre um prazer renovado "viajar" nas suas viagens. Esta então tem um gostinho especial acrescido, o seu achado "troféu" Kalevala, edição portuguesa, realçando o facto de ser em verso.
ResponderExcluirCom tantos vendilhões a querem apagar a peugada lusitana, eis uma lufada de ar fresco.
Agradecida pelas suas sempre tão deliciosas partilhas - pode mudar de "janelas", eu estarei sempre espreitando por elas :)
Partilhar meus textos com leitores atentos e sensíveis como você, cara Isa, é sempre uma grande satisfação. Abraço grato da dalila
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