Quando morre um poeta - e hoje morreu um - vou à estante,
retiro tudo o que dele encontro e ponho-me a ler... ler. É a maneira que
encontrei para velar o corpo de sua obra, um corpo que bem conheço. Assim,
também velo seu corpo, que desconheço, mas homenageio e respeito.
Morreu hoje, aos 74 anos o poeta Marcus Accioly, nascido
em Pernambuco, equivocadamente tido por alguns como “poeta regionalista”. Não
foi/não é. Foi/é um poeta Brasileiro/universal, imenso, épico, órfico,
exuberante. A ele rendo minhas
homenagens.
O poema abaixo, pertence ao livro “Sísifo”, Edições
Quíron/MEC, 1976
Canto Terceiro
O IMPOSSÍVEL DA ALEGORIA
II
pedranimal
e
pássaro-poeta
há
um puma na montanha e há uma pedra
(além
de Sísifo) há uma pedra e um puma
há
a montanha uma pedra um puma e Sísifo
os
perigos de Sísifo: a montanha
uma
pedra e um puma (a pedra sobe
e
o puma desce sobre a pedra e Sísifo
há
uma pedra entre o puma e Sísifo
há
uma luta entre o puma e Sísifo
há
uma pedra e um puma para Sísifo
há
um puma sozinho na montanha
há
uma pedra subindo na montanha
há
Sísifo somente na montanha
há
um puma e o puma é a própria morte
há
uma pedra e a pedra é um poema
há
Sísifo e Sísifo é o poeta
Marcus
Accioly, in Sísifo, Edições Quíron/MEC, 1976
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