Carta à Rainha Louca é um extraordinário romance de
Maria Valéria Rezende, publicado em 2019, pela Editora Alfaguara. Um dos
melhores da mais do que pujante safra atual da literatura brasileira. O romance
é ambientado em Olinda no ano de 1789 e tem como protagonista Isabel das Santas
Virgens, prisioneiro no Convento do Recolhimento da Conceição, que escreve à
rainha Maria I, conhecida como a Rainha Louca.
O fato de estar presa é também um resultado de sua
própria “loucura” aos olhos do mundo local da época. Nessa carta, Isabela conta
à Rainha toda espécie de violências contra mulheres e escravizados cometidas
pelos homens da Coroa e por aqueles que aspiravam a ela pertencer.
A narrativa transcorre toda em forma de missiva e é de
tal maneira bem construída que a linguagem e vocabulário castiço da época não
chega a causar nenhum empecilho à leitura. A escritora é hábil em fazer a trama
caminhar, engendrando a cada novo capítulo um fato novo e intrigante.
Pois é essa personagem sofrida, revoltada e encantadora que levei em mente no último sábado quando me dirigi para o Auditório do SESC Pinheiros, onde encontra-se em cartaz a peça Isabel das Santas Virgens e sua carta à Rainha Louca, interpretada de forma arrebatadora pela atriz Ana Barroso, também produtora do espetáculo.
Ali, o que foi leitura, tornou-se materialidade. Esta
Isabel que ouvimos ao vivo é igualmente revoltada, amargurada e inconformada em
estar enclausurada unicamente pelo crime de saber ler, conhecer, refletir e
criticar. O ato de saber ler sempre foi revolucionário. Isabel não só lia, como
também ganhava, por um breve período, dinheiro com essa habilidade. Ora, mas
uma mulher! Neste caso, o perigo é dobrado.
Não fosse suficiente o fato auspicioso de ver a
personagem Isabel ali, tão fulgurante no corpo e na voz de Ana, a emoção de
estar ao lado da autora do romance naquele momento foi indescritível, em
especial pra mim, que tive a rara oportunidade de tomar uma sopa com ela antes
do espetáculo e conversar o que nos foi possível.
Ao final do monólogo, despida da personagem, Ana
Barroso, ao lado do diretor da peça Fernando Philbert, promoveram uma linda
conversa com Maria Valéria Rezende, a romancista que, como sempre, empolga
plateias, “Sou de olhar pela janela, mas há escritores que olham para dentro”,
define-se ela. Quando ouviu da plateia que escrevera um livro feminista, ela
diz que sua intenção não foi exatamente essa, mas o escritor capta o que está
ao seu redor”. Já a sensível e grandiosa atriz, Ana, fala do desafio que foi adaptar
um romance tão complexo para o teatro, trabalho que levou 4 anos e foi
repartido com o diretor.
Por favor, Assistam, Divulguem, Leiam o livro,
Propaguem.
Isabel das Santas Virgens segue em cartaz, às quintas,
sextas e sábados até 13 de setembro.
Que delicia contar com sua generosa resenha, Dalila!!!
ResponderExcluirTerezinha e eu fomos assistir a peça, juntamente com amigos, no último dia 30, e gostamos muito.
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