Hoje
foi dia de usar a echarpe que pertenceu a minha mãe, Maria Lourdes Olival
Agrela, falecida em 2002. Quando tive que exercer a dolorosa ação de doar os
seus objetos pessoais (poucos por sinal, roupas, sapatos, enfim), não resisti e
guardei duas ou três peças que, além dos vasos de orquídea que até hoje
florescem sem os seus cuidados e os descuidados meus, materializam ainda sua
presença de uma determinada forma que só a mim faz sentido.
Não
sou apegada a bens materiais, mas acabo guardando muitas coisas, não por seu
valor monetário, mas pela simbologia da memória que faz parte de minha trajetória
de vida. Uma delas é esta echarpe, da qual gosto muito (foi presente meu para
ela que, ao contrário de mim, era calorenta e pouco se agasalhava, razão pela
qual, a peça é de um tecido leve, mais para ornamentar do que agasalhar)
Como
pouco vou ao cemitério, estabeleci algumas formas de homenagear meus mortos
queridos e diminuir a saudade que deixaram. O uso desta echarpe, em dias de
necessidade de afeto maternal, é uma delas. Além de homenagear, também me
acalenta e embala. Quando contei isso a minha amiga argentina Margarita Lo
Russo, ela me disse que existia uma bela palavra em seu idioma materno que bem
definiria este gesto: “apapachar”, ou seja, “abraçar ou agasalhar com a alma”.
Achei isso tão bonito que passei a usar a peça mais vezes, pois, assim, além de
relembrar a mãe, agasalhando-me de ternura, homenageio igualmente este belíssimo
vocábulo apapachar.
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