segunda-feira, 17 de julho de 2017

Nênia para Caio Porfírio Carneiro, meu amigo

Nosso amigo Caio Porfírio Carneiro morreu hoje, informa Rosani Abu Adal.  Fiquei triste e, como sempre acontece quando parte um escritor/uma escritora de minha admiração, meu primeiro impulso é buscar um dos seus livros na prateleira, reler trechos assinalados ou não de sua obra. É o que faço neste momento com os livros de Caio, em especial, de "Maiores e menores", livro que tivemos a honra de editar, pela Alpharrabio Edições, em 2003. Esta será minha silenciosa e sentida homenagem ao meu amigo e de tantos e tantos outros escritores.  
Também como forma de lembrá-lo, reproduzo abaixo o texto que publiquei no Jornal Tribuna Popular, Santo André, em julho de 1998, por ocasião da celebração dos seus 70 anos.


foto Rosani Abu Adal


Os setentanos de Caio
Cario Porfírio Carneiro, o reconhecido  contista de Trapiá (o primeiro livro, em 1961) a Mesa de Bar (o mais recente – Ed. Toda Prosa, SP, 1997) com cerca de outros 15 títulos entre os dois, dentre os quais se inclui o romance Sal da Terra, de 1965 (Ed. Civilização Brasileira), êxito editorial com reedições posteriores e traduções em diversas línguas, faz 70 anos em plena atividade de escritor e eterno guardião da União Brasileira de Escritores, São Paulo, entidade onde há décadas exerce o cargo de Secretário Administrativo, extrapolando essa função com a palavra sempre amiga que dedica aos escritores associados, bem como a dedicação e a paciência com que orienta os jovens escritores que o procuram, sempre com uma palavra e um gesto de incentivo.
Cearense de nascimento, há muito radicado em São Paulo, Caio recheia seus contos e romances com cenários que tanto podem ser rurais (reminiscências da infância e juventude) ou urbanos, por onde sua palavra segura transita. O crítico Fábio Lucas no prefácio de Viagem Sem Volta, aponta: “Após longa vivência do autor num centro metropolitano, o contrário é que se observa: mesmo surpreendendo suas personagens a se enredar no espaço rural, poder-se-ia dizer que as paixões que as movem guardam particularmente o estigma das preocupações urbanas.”. Mestre da narrativa curta, dos diálogos secos e parágrafos curtíssimos. É também nos silêncios sugeridos (e adivinhados) que essa habilidade se manifesta.
Caio completou dia 1º de julho 70 anos. Sua obra está inscrita na melhor linhagem da prosa de ficção brasileira, que vai de Graciliano a João Antonio  e merece ser festejada tanto quanto o merece o grande ser humano que é.
De minha parte, fica a homenagem, em forma de depoimento e recordação: Caio foi o primeiro escritor “de verdade” que eu conheci na vida, “em carne e osso”.  Era 1971 e eu, metida a repórter, entrevisto Caio para um jornal de uma entidade cultural, o CORB, que eu frequentava. De quebra, Caio ainda estava acompanhado de Paulo Dantas. Aproveito a ocasião e entrevisto os dois, de quem fico admiradora confessa, acompanhando desde então a carreira de ambos através da leitura de todos os seus livros que vieram a ser publicado após aquela data.


Caio faz setentanos. Viva Caio e sua vida inteiramente dedicada ao livro e à literatura. 

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