Nosso amigo Caio Porfírio Carneiro morreu hoje, informa Rosani
Abu Adal. Fiquei triste e, como sempre
acontece quando parte um escritor/uma escritora de minha admiração, meu
primeiro impulso é buscar um dos seus livros na prateleira, reler trechos
assinalados ou não de sua obra. É o que faço neste momento com os livros de
Caio, em especial, de "Maiores e menores", livro que tivemos a honra de editar, pela Alpharrabio Edições, em 2003. Esta será minha silenciosa e sentida homenagem ao meu amigo e de tantos e tantos outros
escritores.
Também como forma de lembrá-lo, reproduzo abaixo o texto que
publiquei no Jornal Tribuna Popular, Santo André, em julho de 1998, por ocasião
da celebração dos seus 70 anos.
foto Rosani Abu Adal |
Os setentanos de Caio
Cario Porfírio Carneiro, o reconhecido contista de Trapiá (o primeiro livro, em 1961)
a Mesa de Bar (o mais recente – Ed. Toda Prosa, SP, 1997) com cerca de outros
15 títulos entre os dois, dentre os quais se inclui o romance Sal da Terra, de
1965 (Ed. Civilização Brasileira), êxito editorial com reedições posteriores e traduções em diversas línguas,
faz 70 anos em plena atividade de escritor e eterno guardião da União
Brasileira de Escritores, São Paulo, entidade onde há décadas exerce o cargo de
Secretário Administrativo, extrapolando essa função com a palavra sempre amiga
que dedica aos escritores associados, bem como a dedicação e a paciência com
que orienta os jovens escritores que o procuram, sempre com uma palavra e um
gesto de incentivo.
Cearense de nascimento, há muito radicado em São Paulo, Caio
recheia seus contos e romances com cenários que tanto podem ser rurais
(reminiscências da infância e juventude) ou urbanos, por onde sua palavra
segura transita. O crítico Fábio Lucas no prefácio de Viagem Sem Volta, aponta:
“Após longa vivência do autor num centro metropolitano, o contrário é que se
observa: mesmo surpreendendo suas personagens a se enredar no espaço rural,
poder-se-ia dizer que as paixões que as movem guardam particularmente o estigma
das preocupações urbanas.”. Mestre da narrativa curta, dos diálogos secos e parágrafos
curtíssimos. É também nos silêncios sugeridos (e adivinhados) que essa
habilidade se manifesta.
Caio completou dia 1º de julho 70 anos. Sua obra está
inscrita na melhor linhagem da prosa de ficção brasileira, que vai de Graciliano
a João Antonio e merece ser festejada
tanto quanto o merece o grande ser humano que é.
De minha parte, fica a homenagem, em forma de depoimento e
recordação: Caio foi o primeiro escritor “de verdade” que eu conheci na vida, “em
carne e osso”. Era 1971 e eu, metida a
repórter, entrevisto Caio para um jornal de uma entidade cultural, o CORB, que
eu frequentava. De quebra, Caio ainda estava acompanhado de Paulo Dantas.
Aproveito a ocasião e entrevisto os dois, de quem fico admiradora confessa,
acompanhando desde então a carreira de ambos através da leitura de todos os
seus livros que vieram a ser publicado após aquela data.
Caio faz setentanos. Viva Caio e sua vida inteiramente
dedicada ao livro e à literatura.
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