quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Cuiabá x Sábados PerVersos – Imersão poética

"Rua sem saída”, anuncia a placa no início da rua, na cidade de Santo André. Só que não é bem assim.

Adentrando a porta da última casa da rua Cuiabá, a de número 153, local onde a arte habita, penetra-se também no mistério e no encantamento. Se o visitante (que só poderá visitar o ateliê-casa mediante agendamento prévio), mostrar-se delicado, interessado e interessante, a proprietária do local, acabará por lhe mostrar a passagem secreta para o quintal/garagem e, finalmente, a saída para outra rua. Uma placa, portanto, nunca diz tudo. 

A Cuiabá 153 é um portal para um mundo a descobrir. Tudo ali respira criação e um certo ar de mistério.

Para os que acompanham a história do local e a rebeldia que ali ocorre há cerca de uma década, essa sensação já está introjetada. Chegam como quem é “da casa”, a rua (con)fundida ao Cuiabá 153 – Galeria, Espaço Cultural, Casa ateliê da artista visual Sueli de Moraes, ou simplesmente, Suca, como é conhecida e reconhecida.

Tudo ali começou com reuniões “descompromissadas” entre pares, depois, em 2014, veio a ideia da parceria com  um projeto realizado na França, Les Fenètres qui parlent”, onde reside uma de suas filhas. Assim, em diálogo com as janelas francesas, nasceu “Portões que Falam”, uma extraordinária instalação de arte pública, promovida em anos diferentes, por quatro edições, a pandemia atrapalhando no meio delas.  

A cada dois anos, Suca e os participantes da ação de arte pública, vão de casa em casa, não só da rua Cuiabá, mas em várias outras ao redor. Na última edição foram sete ruas. Conversam com os vizinhos, tentando convencê-los a ceder seus respectivos portões para a realização da intervenção. Foi difícil, mas ela e aqueles que toparam ser seus pares, conseguiram, tanto que na última mostra, 2022, participaram mais de oitenta artistas envolvendo o mesmo número de residências que cederam espaço para as intervenções.

Pois bem, feita essa longa introdução, necessária, no meu modesto modo de ver, para falarmos do que aconteceu ali no último sábado, 28 de janeiro.

O coletivo Sábados PerVersos, ligado à livraria e espaço cultural Alpharrabio, há oito  anos ininterruptos unido por suas reuniões mensais no espaço físico da livraria e outros locais, inclusive, virtuais, como nos dois primeiros anos da pandemia,  recebeu um sedutor convite de Suca que foi alegremente aceito.










A ideia era visitar a exposição “Além da superfície”, a primeira individual da jovem artista Vitória Fogaça, instalada e aberta à visitação de 02.12.22 a 04.02.23. Mas não seria uma visita qualquer. A sugestão foi de uma imersão poético-visual na mostra, ou seja, um diálogo entre as obras expostas e as possíveis leituras das visitantes, Vanessa Molnar, Rosana Chrispim, Ciça Lessa, Márcia Plana, Nathaly Felipe Alves, Isabela Agrela T. Veras, Luzia Maninha Teles Veras e a autora deste texto, além, naturalmente, das anfitriãs, Suca e Vitória. Dez mulheres, muitas histórias a se cruzarem. Muitos questionamentos e reflexões.

Após uma monitoria da curadora Suca, logo à chegada e da apreciação individual das obras expostas, seguiu-se uma imersão gastronômica em sabores e cheiros, a título de intervalo para almoço. 





A própria Suca, que entre as muitas habilidades, além de sua formação em arte, também é graduada em gastronomia e hábil na alquimia de sabores, foi para a cozinha que, diga-se, faz pare do ambiente. Preparou “nhoque” ou inhoque ou gnocco, em italiano, acompanhado de um espesso e perfumado molho de tomate e ervas secretas, mais uma saladinha e água aromatizada com folhas de manjericão, vinda dos canteiros laterais da casa.  Aproveitamos a ocasião festiva e abrimos umas garrafas de vinho, também para celebrar o aniversário de uma das visitantes presentes, Márcia Plana, que generosamente preparou um bolo de sabores igualmente misteriosos, para servir na sobremesa.


Plenas de ver, saborear e ouvir, fizemos uma roda de conversa com a Vitória, autora das 12 obras da mostra, em técnicas e materiais diversos.

Vitória nos disse que, a princípio, o trabalho nasceu numa pesquisa que vinha realizando sobre o corpo, presença e ausências; fases da infância, entre outras. Durante a primeira fase, uma série de inusitados desenhos em papel, que tiveram partes recortadas, no sistema calcogravura. Os pedaços recortados, foram colados a outros desenhos dando-lhes outros sentidos, numa segunda obra. 
















A artista também falou do uso do grafismo em meio aos desenhos, como “uma forma de complementar o que a imagem não sustenta”.  Durante o período de um ano, as ideias foram anotadas em cadernos, efetuadas, refeitas. Um longo processo que incluía conversas e trocas com a curadora Suca. 

Por fim, a aniversariante Márcia decidiu tirar uma selfie com cada uma das amigas presentes, ou quase.










A poeta tenta capturar o momento pós-imersão


A tarde caía sobre os paralelepípedos da Cuiabá, quando cada uma das presentes rumou para seus respectivos destinos, com a promessa de transformar essa experiência em arte ou qualquer outra coisa, um poema, uma crônica, um artigo, neste meu caso, dando por cumprida a imersão e vindo à tona com a promessa cumprida.

Dalila Teles Veras, início de fevereiro de 2023

sábado, 14 de janeiro de 2023

Dalila Teles Veras 2022, inventário em tempo de tragédias

Para certificar-me de que não morri no ano passado, fui ao meu "Diário da Vida lá Fora" e constatei que, além de não ter morrido, criei, participei, militei e mantive as pontes necessárias à sobrevivência mental. 

Aqui estão os registros. 


Dalila Teles Veras, 2022,  3º Ano da pandemia Covid e 4º Ano de governo de JMB, tragédias nacionais

Participações e ações de DTV em atividades literárias e culturais no ano de 2022


1) Livros publicados

- fuga e urgências (Alpharrabio edições, 20220

- dias distantes – idealização e organização. Coletânea do coletivo Sábados PerVersos (Alpharrabio Edições)

 





2) Participação em obras coletivas

- coletânea ABCDelas, Olva Defavari, org., Editora Cloé (2 poemas)

 - Coletânea Foice na Carne, org. pelo prof. Rubens da Cunha com a participação de 8 poemas de cada um dos 13 poetas, todos integrantes do Sarau das Ideias (USCS, Alpharrabio, Inst. Ideia)

- Após a versão virtual, publicação da versão impressa da Antologia “Este imenso mar”,. Instituto Camões, em Portugal.

 Saramago, 100 anos – Violante, hoje - Humanidade como poética e prática de vida – anotações afetivas - Ensaio integrante do livro “Saramagos – 100 anos de José”, diversos autores, Érico Vital Brazil e Liana de Camargo Leão, organizadores (Cátedra José Saramago – Universidade Federal do Paraná, Fundação Maria Luísa e Oscar Americano) pgs. 160-163.





  3) Textos, ensaios poemas, orelhas e prefácios em livros e jornais impressos

 - Orelha para o livro Justa Causa, de Giovana Damasceno

- Apresentação para o livro Sino Mágico, Cia do Nó – Renata Moré

- Orelha do livro Xilogravura de Pássaros, de Carvalho Junior, Ed.Penalux

- O Metalúrgico, 4.3. (Jornal do Sindicato dos Metalúrgicos) – Poema 8 de março 

- Alpharrabio 30 anos – festa adiada - Texto (publicado nas redes e no blog Alpharrabio) sobre os 30 anos da livraria e espaço cultural

- Insularidade na criação poética: autoexílio e mistério, publicado na revista Translocal - UMA – Universidade da Madeira, texto resultando da conferência do mesmo nome proferida naquela Instituição

 

4) Palestras, leituras e participação em mesas de debates e outras atividades PRESENCIAIS

-Insularidade na criação poética: autoexílio e mistério, conferência  proferida no âmbito do 3º Ciclo em Literaturas e Culturas Insulares -  Depto. de Línguas e Literaturas e Culturas da Faculdade Letras e Humanidades na Universidade da Madeira, a convite da Professora Dra. Leonor Martins Coelho (transmissão híbrida, presencial e online)  



 - Painel Mulheres de 22 em 22, com Beth Brait Alvim e Dione Barreto, mediação Antonio Carlos Pedro – Seminário Cultura e Sociedade, na USCS – Universidade Municipal São Caetano do Sul 26.5

- Audiência pública sobre o Sistema Estadual de Cultura, iniciativa do mandato do Deputado Estadual MMaurici (PT), e intermediada pelo Lela Lopes, no Alpharrabio. 26.5 

- “Poetas pela Democracia”, espaço “Térreo Virgínia”, na Rua Martins Fontes, em SP. Ato político do coletivo “Poetas pela Democracia”, com lançamento do livro “Particípio Presente”, do poeta Élcio Fonseca, organizador do evento.  Li alguns poemas do meu livro Tempo em Fúria e proferi algumas palavras sobre o atual momento político brasileiro. junho14

- Roda de conversa e recepção à escritora Maria Valéria no Alpharrabio, com a presença de 13 convidadas(os). Livraria e espaço cultural Alpharrabio, 28.7

- “Poesia e cotidiano” palestra proferida na sede do Coletivo Coopacesso, a convite de Leonardo Campos. Presencial e transmissão simultânea pelo Youtube.

 - “Encontro da palavra”, Teatro Municipal de Mauá. Homenagem ao poeta Edson Bueno de Camargo. Lançamento de seu livro póstumo, “A escansão da Argila”, Patuá, 2022, organizado por Cecília Camargo. Leitura e algumas palavras sobre o poeta.  16.8



 - Leitura de Poemas de Vera Lúcia de Oliveira na apresentação de seu novo livro “Esses Dias Partidos”, na Casa Guilherme de Almeida, SP

 - “Sob tanta literatura – 10 anos sem/com António Pina” - Leitura de poemas (a convite da poeta Michaela Schmaedel, curadora), com a presença dos poetas Leonardo Gandolfi, Heitor Ferraz Mello, Tarso de Melo, Marcelo Ariel, Paola Poma e a própria Michaela Schmaedel. Livraria da Travessa, em Pinheiros, 15.10

- Fala de abertura do 5º Encontro Nacional do Mulherio das Letras, em João Pessoa, PB. Homenagem a Maria Valéria Rezende e celebração dos seus 80 anos de vida. Rodas de debates e oficinas - 26.11.




  5) Terças daDa no Alpharrabio – encontro na livraria Alpharrabio

22.2 – Rosana Chrispim (leitura e comentários sobre poemas de R. em diálogo com os meus)

07.6 - Andrea Paula Santos - Celebração dos seus 50 anos e o longo tempo de ausência, ou seja, praticamente 3 anos. Bolo, flores e vinho do Porto.  

02.08 – Retomada das terças daDa. Neusa Borges. Conversa despretensiosa sobre nossas realizações através do Fórum e outras ações

9.08 –. Raquel Quintino, Mauá – projeto para um livro adaptado de sua dissertação de mestrado.

16.8 - Simone Zárate e Azê Diniz, Secretária e Secretária Adjunta de Cultura de Santo André. Conversa saudosista e sobre conjunturas depois. 

23.8 – Marilia Mello Pisani da UFABC. Retomada de contato, projetos futuros e acerto de uma terça daDa com o prof. Vladimir Safatle, da filosofia da USP 

30.08 - Wladimir Safátle, ampliado, com plateia. Na verdade uma palestra do filósofo, a que ele chamou de “Imaginar futuros como força política”. 



06.09 - Grupo composto por Sílvia Helena Passarelli e mais quatro professores (Rodrigo Luiz O. R. Cunha, UFABC; Ivone de Santana; Mônica Carolina Savieto (FSA)
  todos envolvidos com o Movimento pró-IFABC, ao qual aderimos.




13.09 – Hoje levei dois bolos. Comemoração do aniversário de Jurema. Presentes, além de Jurema, Zhô, Hugo e Márcia e Penélope Martins que veio para uma visita casual e se juntou aos demais.

21.09 –Caroline Silvério, da UFABC. As notícias: UFABC retoma a “normalidade”, com aulas presenciais e energia para lutar por melhorias. A grande notícia é que reativaram as atividades do Arquivo Histórico-Cultural do ABC, já com estagiários em ação. Fui convidada a nova parceria na continuação do “Sarau On line – Tempo Propício à memória”, em sua segunda edição, que será ainda virtual e previsão de continuidade presencial no próximo ano.

11.10 – Andrea Paula e Nathaly (sobre camaradagens, parcerias e coletivos)

 25.10 – Caroline – UFABC (organização Sarau virtual Alpharrabio-UFABC)

 

 6) LIVES ALPHARRABIO (canal próprio no Youtube)

 - conversa de livraria Apresentação do novo livro de Marcos Lemes (o 7º pela Alpharrabio Edições), NÃO, composto de 3 peças curtas. Além de Marcos, participação de Sérgio Pires (que teceu comoventes elogios à Alpharrabio pelos 30 anos), Kéroly Gritti e Assesio Fachini, autores dos textos de apresentação de cada uma das peças. 25.2

- Sobre o livro “O Sino Mágico – Pensamentos sobre teatro e pedagogia na CIA DO NÓ, Alpharrabio Edições e Cia. Do Nó. Participação de Adélia Nicolete e Solange Dias.

  - Apresentação do livro “Via em 7 Minutos”, de Melissa Suárez. Participação, além de mim, Solange Dias, e Eduardo Lacerda, o editor. transmissão simultânea com o canal da Ed. Patuá.


7) Participações virtuais, a convite - palestras, lives, entrevistas, saraus e/ou podcast

- Poema “nefelomancia” gravado por mim para Poesia pros Ouvidos, Podcast de Michaela Schmaedel.

 - Gravação de depoimento a Reinaldo Botelho pesquisador ligado à Casa do Olhar e coordenador dos eventos relacionados à abertura do Cine Teatro Carlos Gomes. Ele queria algo sobre a minha relação com o Teatro, que, na verdade, ocorreu, já na decadência, no fechamento, nas duas reaberturas, e, claro na luta pela preservação e, finalmente, o tombamento do patrimônio.

 - “SaraudasIddeias” especial, em 16/02/22, tendo a “Semana de 22” como tema - e o olhar crítico sobre o seu desenrolar.  com poetas ligados ao Sarau das Ideias, atividade inserida no Programa de Extensão da Universidade de São Caetano, “UNIVERSIDADE ABERTA”, previsto para acontecer em maio 2022.

 - “Revisitando a Semana de Arte Moderna: Diálogos entre o passado e o presente”, mesa de abertura do Festival Mulherio das Letras - 100 anos da Semana de Arte Moderna, promovido pelo Mulherio das Letras regional Zila Mamede (de Natal – RN, com a profas. Constância Lima Duarte, Cássia Cardoso e Érica Macedo. Abordagem sobre Pagu.

- “Sarau Enajocista”, com antigos membros da JOC – Juventude Operária Católica, a convite de Airton Mendes – Tema Dia da Mulher. Leitura de poemas próprios. 12.3

 - Sarau de Arte Moderna, dentro da celebração da Semana de Arte Moderna, promovida pela USCS e transmitida pelo próprio canal da instituição no Youtube. Éramos em 10 pessoas, todas ligadas ao Sarau das Ideias. “Pagu – a política, o amor e as letras”. dtv. 16.2

- Participação na live “Memória do Teatro” organizada pela Adélia Nicolete e Cassio Castelan - Grupo Fiandeiras. Depoimento sobre o trabalho do grupo 18.3

- Participação no programa virtual “Tome Prosa, Tome Poesia”, na sua 47ª. Apresentação. Conversa com os poetas e prosadores, Ricardo Silvestrin (Porto Alegre), e Geraldo Lima, conduzida por Antonio Mariano. 26.3

 - Entrevista – Convidada pelo Prof. Marcelo Batalha, que vem fazendo este programa dentro de uma escola pública em Vitória de Santo Antão, periferia de Recife, Pernambuco, por onde já passaram incontáveis e expressivos nomes da literatura brasileira e portuguesa, em mais de 100 edições. Foram convidados para falar da trajetória de dtv, Reynaldo Damazio, poeta e coordenador da Casa das Rosas, SP, Adriane Garcia, poeta e ativista cultural, e Luísa Paolinelli (prof.Universidade da Madeira)


link para o vídeo: 

- Sarau Tempo Propício à Memória, parceria com arquivo histórico e cultural UFABC inserido na programação do XV Congresso de História e Cultura do ABC. Participação e curadoria: DTV. Poetas convidados: Deise Assumpção, Hélio Neri, Zhô Bertholini e Joaquim Freire.

- Sarau das Ideias, encontros quinzenais, coordenados por Antonio Carlos Pedro, Instituto Iddeias  

- Conversa com Escritor/a - prof. Marcelo Batalha. Três convidados falam sobre obra de dtv: Eliane Garcia, de Belo Horizonte, Reynaldo Damazio, de São Paulo e Luiza Paolinelli, professora da Universidade da Madeira. 22.08

- Entrevista/depoimento no âmbito dos Seminários Poéticos – escrever vida, viver poesia! organizados pela pós-doutoranda do Programa de Estudos Pós-Graduados em Literatura e Crítica Literária da PUC-SP/CNPq, Profª Dra. Nathaly Felipe Ferreira Alves, sob supervisão da professora doutora Annita Costa Malufe, 7.12

 

7) Sábados PerVersos – Livraria Alpharrabio

fevereiro, 5 – Abordagens individuais sobre o Centenário da Semana de Arte Moderna (virtual) – Presenças: Márcia Plana, Deise Assumpção, Paulo Dantas, Diogo Cardoso, Jurema Barreto de Souza, Zhô Bertholini, Isabela A. T. Veras, Luzia Maninha T. Veras, Valdecirio Teles Veras, Mireille Lerner, Isa Ferreira (Portugal), Cecília Camargo, Rosana Chrispim, Ciça Lessa, Lenir Viscovini e eu.

março, 5 - "Dia Internacional da Mulher", leituras de poemas das integrantes do sarau. formato híbrido, presencial e transmitida (de forma amadora, claro) por vídeo conferência Participação de Rosana, Ciça, Isa - Isabel R. Ferreira, de Portugal, Constança Lucas, de Mato Grosso, que enviou o seu texto para a Isa ler. Também por vídeo, Diogo Cardoso leu um texto de Aye Len e, por fim, da Rosana Chrispim.

abril, 2 – Sem pauta definida, só compareceram ao Sábados PerVersos de abril, Paulo Dantas, Nathaly Filipe. Maninha os recebeu e rolou um bom papo, de acordo com ela. Não compareci. Estava doente.

maio, 7 - Márcia Plana coordenou e trouxe poemas de Orides Fontela e Nathaly Felipe, assim como pinturas de Nathaly e os colocou para discussão. Presentes: Márcia Plana, Nathaly Felipe, Rosana Chrispim, Ciça Lessa, Deise Assumpção, Jurema Barreto de Souza, Lenir Viscovini, Aye Len, Diogo Cardoso, Isabela e Murilo, Paulo Dantas

junho, 04 - coordenado por Paulo Dantas sobre Ascenso Ferreira. Com a presença da profª pesquisadora e escritora Luísa Paolinelli que participou ativamente do encontro, inclusive lendo poemas de Ascenso, com seu acento lusitano (nasceu em Lisboa e vive há muito na Madeira).

agosto, 06 – Deise Assumpção coordena. Poemas da Adélia Prado separados por temática, foram lidos, seguido de análise dos presentes. Deise, Lenir, Rosana, Conceição, Márcia e Nathaly. Eu e Maninha, 8 mulheres!

setembro, 03 - Coordenação de Conceição Bastos “Dando continuidade à leitura da poesia de ADÉLIA PRADO, a proposta para o próximo Sábado PerVerso  é que cada participante apresente a sua própria releitura do poema ORFANDADE, do livro Bagagem. Não fiz o poema. Não rolou. Em contrapartida, “rolou” para os demais: Conceição, Deise Assumpção, Lenir Viscovini, Rosana Chrispim, Márcia Plana, Mireille Leirner, Nathaly Felipe, Isabela T. Veras e Paulo Dantas, único homem presente.

outubro 01 – cancelado em função do clima pré-eleições presidenciais

novembro 05 – coordenação Deise. Poemas Saramago.

dezembro 03 - Celebração dos 8 anos de atividades mensais ininterruptas. Em forma de resgate de sua história, foram recolhidos depoimentos de alguns de seus integrantes sobre a trajetória deste já longevo projeto Sábados PerVersos.


 

 8) Colaborações (textos e entrevistas) em VEÍCULOS VIRTUAIS

- Poema maiowald publicado NA revista literária Germina (virtual) integrando o número especial sobre a Semana de Arte Moderna, com 122 poetas. Curadoria Silvana Guimarães

- Por videoconferência, longa entrevista à jornalista Miriam Gimenez, posteriormente publicada na íntegra no Portal do Governo do Estado de S.Paulo, denominado “Agenda Tarsila”, sobre o Centenário da Semana de Arte Moderna de 22.

- Elogio a Maria Valéria pelos seus 80 anos – Blog à Janela dos Dias.

- “Insularidade na criação poética: autoexílio e mistério”, ensaio decorrente da conferência do mesmo nome, proferida no âmbito do programa Doutoramento em Literaturas e Culturas Insulares, UMA – Universidade da Madeira. Publicação virtual na revista virtual Translocal, da mesma instituição.

 

9) Comitê de Extensão e Cultura – CEC, UFABC – assembleias (membro representante da comunidade externa)

- I Sessão ordinária do CEC – Comitê Extensão e Cultura, Pró-Reitoria de Extensão UFABC. 23.2

- I Sessão extraordinária CEC – UFABC, pauta pequena.  25.5

- primeira reunião presencial do CEC – PROEC – UFABC, II Sessão Ordinária, após mais de dois anos de assembleias virtuais. Reitor novo Edson Pimento e vice-reitora, Gabriela Maruno.  29.6


10) Homenagens recebidas

-  “Destaque 2022 na área da Cultura“. Outras 3 mulheres também foram homenageadas, nas áreas da Saúde, Educação e Atletismo. Prefeitura de S. André, aniversário da cidade de S.A., 08.04

- Recebimento do “Colar Guilherme de Almeida”, Prêmio Guilherme de Almeida. indicação da Casa Guilherme de Almeida. Sessão solene na Câmara Municipal de São Paulo. 





 



domingo, 6 de novembro de 2022

Registro de um encontro há 10 anos acalentado e, de última hora, finalmente, realizado - Maria Valéria Rezende

 



Elogio a Maria Valéria Rezende, em visita à Livraria e Espaço Cultural Alpharrabio, Santo André, SP, no ano de seu 80º aniversário natalício

Está conosco, para uma visita relâmpago, a premiadíssima escritora Maria Valéria Rezende. Este encontro no Alpharrabio é um pitstop em seu trajeto de hoje, ou seja, entre Santos e Suzano, cidade onde ela se apresentará à noitinha, como escritora convidada da Prefeitura local para falar sobre sua Trajetória Literária.

Maria Valéria nasceu e viveu até os 18 anos na cidade de Santos, SP. De lá saiu para o mundo e sua aventurosa existência é mais romanesca e interessante do que a história de Robson Crusoé.

Formada em Língua e Literatura Francesa, Pedagogia e mestre em Sociologia, dedicou-se, desde os anos 1960, à Educação Popular, em diferentes regiões do Brasil e no exterior, tendo trabalhado em todos os continentes.

Não é nossa intenção apresentar aqui sua vasta biobliografia, porque esses dados são públicos e de fácil acesso. Apenas algumas pinceladas, para constar.

Em 2002, às vésperas de completar 60 anos e intensos périplos reais, começou a publicar literatura com a primeira versão do livro “Vasto Mundo” (Ed. Beca), posteriormente reeditado, inclusive traduzido e publicado na França.

O seu romance “O voo da guará vermelha” (Ed. Objetiva, 2005) veio a ser publicado em Portugal, França e teve duas edições em Espanha (espanhol e catalão).

Com a publicação de romance “Quarenta Dias” (Ed. Alfaguara, 2014)  e “Outros Cantos” (Ed. Alfaguara, 2016) inscreve-se definitivamente na centralidade da literatura brasileira, sendo premiada com Jabutis, Prêmios São Paulo, Casas de las Américas e tantos outros. Foi igualmente premiada por vários de seus livros na categoria infantil e juvenil.

Em 2019, publica o genial romance Carta à Rainha Louca, no qual emprega toda a sua cultura, criatividade e destreza narrativa. Fruto de uma pesquisa histórica exaustiva, utiliza o vocabulário oitocentista (a história passa-se em Olinda, PE, em 1789) e cria, com absoluto domínio de linguagem, a história de duas mulheres (Isabel e sua senhora Blandina) vivida naquele século. Trata-se de um romance ímpar na nossa literatura, cuja abordagem explicitamente feminista combativa, denuncia toda espécie de tormentos vividos por Isabel das Santas Virgens, presa no convento de Recolhimento da Conceição que passa a escrever cartas à rainha Maria I, conhecida como a Rainha Louca. Ali, a personagem relata, analisa e denuncia as crueldades e modos de vida despóticas dos homens da Coroa no Brasil, contra mulheres e escravizados. 


Uma curiosidade em sua biografia. Em 1965, entrou para a Congregação de Nossa Senhora, Cônegas de Santo Agostinho e foi como missionária que cumpriu sua rica trajetória nacional e mundialmente. Por este fato, no calor do sucesso estrondoso do romance Quarenta Dias, artigos da imprensa oportunista, chamavam atenção “freira vence o Jabuti com melhor romance e livro do ano”, “a freira que fuma”. Foi assim que tentou-se construir uma imagem mítica baseada em suas vivências nada comuns. Seu espírito, entretanto, não é o do recolhimento, é o da missão educadora. Em algumas entrevistas, como ao El País, ela responde: “As pessoas pensam que freiras são bobinhas. Como podem escrever literatura?”

É essa mesma freira rebelde feminista, a princípio vista como uma curiosidade literária, que há vinte anos impõe-se como escritora pelo poder único de sua força criadora. Paralelamente, segue fiel aos seus ideais socialistas de bem comum, utilizando da palavra e do ativismo social e cultural, na luta por uma sociedade menos desigual como a nossa.

Foi pelo entusiasmo de sempre que uma ideia sua vingou e consolidou-se. Em 2016, durante a Flip em Parati, um grupo de mulheres comentava a ausência de sempre de mulheres às mesas de debates. Avaliava-se que o papel da mulher ainda permanecia num plano de “cotas”, como ela bem dizia. Surge, dessa conversa informal a ideia de fundar um coletivo que veio a chamar-se Mulherio das Letras. O primeiro passo da sempre ligeira Maria Valéria, foi criar uma página no facebook e já no ano seguinte, é realizado, de forma colaborativa, o I Encontro Nacional Mulherio das Letras, não por ocaso, em João Pessoa, capital da Paraíba, onde vive Maria Valéria.

Seguiram-se mais 3 encontros nacionais, no Guarujá, SP, em 2018, em Natal, RN, em 2109 e em Porto Alegre, RS, em 2020 que, por conta da pandemia, foi realizado de forma virtual.

Hoje, a página do movimento conta com mais de 7.000 mulheres e núcleos regionais em inúmeros estados do Brasil e no exterior.

O ML transformou-se num divisor de águas na luta pela visibilidade da escrita de mulheres, mas não só. Trata-se de um coletivo feminista, comprometido com a defesa da igualdade dos direitos da mulher. Assim como Maria Valéria é divisora de águas na história da mulher escritora no Brasil.

Se me permitem uma autorreferência, gostaria de registrar um aspecto dos muitos significados deste encontro que me ocorreu ao organizá-lo, à última hora. Foi há exatos 10 anos que vi Maria Valéria pela primeira vez, ocasião em que ambas fomos convidadas pelo querido escritor e agitador cultural, Sacolinha, para partilhar uma mesa de debates na Feira do Livro de Suzano, a mesma cidade para onde se dirigirá daqui a pouco, escudada por nossa amiga em comum e fiel escudeira Rosana Chrispim.

Posso dizer que naquele encontro, nascia uma paixão à primeira vista e que perduraria em admiração crescente por esta mulher extraordinária, imensa escritora e ser humano raro. Orgulho grande em pertencer à sua geração.

Posso afirmar, sem medo de errar, que todas e todos que aqui se encontram vieram pela mesma admiração e desejo fraterno de abraçar pessoalmente nossa querida Maria Valéria, rendendo-lhe esta singela homenagem.

Lembramos que, em dezembro deste ano, ela completará 80 anos de vida e todas nós já estamos nos preparando para a celebração.





Gostaria ainda de acrescentar o quanto é honroso para nossa minúscula equipe, integrar o nome de Maria Valéria à história e às comemorações dos 30 anos da Livraria e espaço cultural Alpharrabio, onde ela comparece pela primeira vez, após várias tentativas fracassadas. Quis o fado que a hora fosse esta, a da pós-pandêmica e a retomada dos abraços.

O Porto de Honra que serviremos a seguir, é para lembrar os nossos 30 e os 80 dela. Salve e tim... tim..

dtv Alpharrabio, 28.07.2022



Texto de dtv publicado no blog “à janela dos dias” em 1º de maio de 2014, evocado por Adélia Nicolete e lido por Cláudia Jordão no dia 28.7.2022

“Quarenta dias em dois dias

Saí da leitura do romance "Quarenta dias" de Maria Valéria Rezende (Alfaguara, 2014) rendida (leia-se, transformada), como se eu mesma, nestes dois últimos dias, tivesse vivenciado as agruras dos quarenta dias de sua narradora, Alice, percorrido os becos e outros lugares escusos de uma cidade (Porto Alegre) que, por suas (des)humanidades,  bem poderia ser a minha ou qualquer uma das grandes cidades brasileiras.

Trata-se de um mergulho na vida urbana e nos seus personagens, costumeiramente invisíveis à grande maioria dos passantes, mas não só. É também e principalmente um mergulho no mundo das trevas, por uma mulher, professora aposentada, que se vê, repentinamente, obrigada pela insensibilidade da filha, a deixar sua casa e seus pertences, mudar-se para um apartamento "cenário de novela", frio e impessoal, sob a perspectiva de tornar-se apenas uma "avó profissional", matando sua própria história.

É nessa viagem/mergulho às cegas que Alice, de forma alucinada e inconsciente, busca criar uma história possível com a qual possa se identificar. Uma viagem através da banda podre e invisível de uma grande cidade, onde anônimos vão recebendo nomes e se transformando em protagonistas de outras histórias, compondo um painel assustadoramente humano e ao mesmo tempo assustadoramente despossuído de humanidade. Um exército dos abandonados à própria sorte, dos que, como ela, também largaram seus lugares, suas famílias e caíram no mundo e transformaram-se numa massa informe e fétida da qual, vez por outra, vertem os tais vestígios de humanidade, através de gestos de solidariedade e compaixão.

Não pude evitar a lembrança de uma crônica já velhinha, que escrevi sob o impacto da tragédia ocorrida com o desabamento do edifício Palace, na Barra da Tijuca (RJ), no Carnaval de 1998. Comovida diante das expressões de dor daqueles que, assim como a personagem do romance que acabo de ler, assistiam ao momento da perda de sua própria história.

Naquele texto, dizia eu, uma casa não é um lugar que serve apenas para abrigar pessoas e coisas. Uma casa não é uma simples edificação, mas representa a própria vida de quem a habita, a memória representada por fotografias, livros, suvenires de viagens, fitas,  pétalas de flores, cartões postais, almofadas, objetos insignificantes para olhares desavisados, mas que, junto a lembranças não armazenáveis em quartos, salas ou cozinhas, como gestos, carícias, sons, cheiros, respirações, ritos que ali ficam colados às colunas, portas e paredes, impregnados da energia vital, representam o eixo referencial da própria existência de quem a habita. E foi isso que me fez compreender o gesto tresloucado de Alice

Quarenta dias, escrito na forma de diário e memória, possui um ritmo que obriga o leitor a, ofegante, acompanhar os passos da personagem pelos subterrâneos de uma cidade e de uma mulher, ambos à beira do colapso e da ruína. Um romance que, por força de uma poderosa narrativa, nos põe diante de uma tela na qual pode-se assistir ao que se lê. E que ninguém se iluda com a linguagem (quase) coloquial, aparentemente desprovida de "trabalho". Ser simples desse jeito requer uma vida inteira de dedicação e muito, mas muito trabalho.”

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Imagens: Luzia Maninha

 

segunda-feira, 26 de abril de 2021

Domingo de pausa, muita luz, sombra e café fresco.



 

Uma pausa em ambiente adequado para terminar de ler um romance que gira em torno de afetos, entre irmãs e seu mundo, seus mundos. “O coração pensa constantemente”, de Rosângela Vieira Rocha.

Este comentário de leitura que, eventualmente pode soar fora de lugar ou esquisito, foi lido em circunstâncias especiais e certamente serão lembradas a cada vez que retirar o livro da prateleira ou cair em minhas mãos por qualquer outra razão.

Adquiri o livro no final do ano passado, ainda em pré-venda na Editora Arribaçã. Deu-se um jeito para que chegasse autografado pela autora. O volume foi parar na pilha dos “a serem lidos”, em crescimento quase diário, mas acabou furando a fila e, diga-se, num momento bastante estranho, quando, após uma tempestade, ficamos sem energia elétrica em casa por uma noite inteira. No escuro, sem sono, puxei um livro qualquer da pilha e... era esse! Tentei a luz da vela, mas não foi possível, pois aquele bruxulear da chama fazia sombras na página. Sem nenhuma outra fonte de iluminação. Finalmente, veio a ideia de experimentar a lanterna do celular. Raramente aproveito as múltiplas funções desse diabólico aparelhinho. Não sem algum malabarismo para fixar o celular com o foco da luz dirigido ao livro, a coisa funcionou. E assim decorreu a primeira leitura, até o capítulo XXIII, próximo da 100ª página.

Neste domingo, o livro escolhido a ser levado comigo para o refúgio secreto na mata atlântica foi justamente esse. E foi lá que voltei a me emocionar com uma narrativa fascinante sobre a amizade entre duas irmãs que durou uma vida.

Não fosse a autora quem é, com um lastro de, pelo menos, três dos seus romances premiados e de alta voltagem literária, este tema, inevitavelmente, correria risco grande de cair no pieguismo. Entretanto, nem por um momento ou simples parágrafo que seja, isso acontece. Apesar da dor e do luto da narradora, o humor, marcadamente nos capítulos que decorrem em flashback, está presente como pausa para respiro. Habilmente dividido em quarenta curtíssimos capítulos a intercalar passado e presente, a narrativa não deixa esmorecer o desejo do leitor em continuar.

Sou leitora de Rosângela desde os primeiros livros de contos, nos já distantes anos 80 do século passado e tenho a imensa alegria em, a cada nova obra, senti-la plena de frescor criativo, jamais se repetindo.

Este foi um texto que rascunhei rapidamente logo após a leitura de seu livro, Rosângela. A intenção era enviá-lo por mensagem pessoal à autora, inclusive com as “ilustrações”.

 Afinal pensei que, ao torná-lo público, cumpro o dever, em nome da cumplicidade e admiração que lhe devo, como leitora, admiradora e camarada de trocas e andanças literárias, em especial, nos últimos quatro ou cinco anos, através da militância comum no grupo feminista Mulherio das Letras.

Espero pelo próximo, não sem a costumeira expectativa.

E, finalmente, um grande viva às mulheres que, neste momento de escuridão, dão à luz o melhor da literatura brasileira.