Produzi este texto para lembrar os 10 anos de morte do
Maestro Flávio Florence. Dele retirei alguns excertos para ler durante a homenagem que lhe foi prestada pela Associação Coro da Cidade de Santo André,
na Catedral do Carmo, repleta de amigos e admiradores do homenageado.
A bela cerimônia, revestida de momentos de muita emoção, foi composta por um concerto do Coro da Cidade de Santo, regido pelo Maestro Roberto Ondei e outros regentes convidados, como Silvia Hokama e Sérgio Assumpção. Ao Coro juntaram-se, em forma de participação especial, integrantes do Coro da Universidade Federal do ABC, ex-integrantes do Coral Municipal de Santo André e do Coral da Fundação Santo André. Igualmente convidados as solistas Marta Dalila Mauler e Cláudia Arcos, sopranos, o barítono Sebastião Teixeira e o tenor Gilmar Ayres. No programa, os compositores prediletos de FF, dentre outros, Bach, Stravinsky, Mozart, Fauré, Haendel. O cuidado apurado na programação e em toda a organização do encontro transformou aquele momento em verdadeira epifania.
A bela cerimônia, revestida de momentos de muita emoção, foi composta por um concerto do Coro da Cidade de Santo, regido pelo Maestro Roberto Ondei e outros regentes convidados, como Silvia Hokama e Sérgio Assumpção. Ao Coro juntaram-se, em forma de participação especial, integrantes do Coro da Universidade Federal do ABC, ex-integrantes do Coral Municipal de Santo André e do Coral da Fundação Santo André. Igualmente convidados as solistas Marta Dalila Mauler e Cláudia Arcos, sopranos, o barítono Sebastião Teixeira e o tenor Gilmar Ayres. No programa, os compositores prediletos de FF, dentre outros, Bach, Stravinsky, Mozart, Fauré, Haendel. O cuidado apurado na programação e em toda a organização do encontro transformou aquele momento em verdadeira epifania.
foto de Luzia Maninha |
Muito
agradeço a Márcia Miyashiro, integrante do Coro e uma das organizadoras, o
honroso convite para participar de um momento tão significativo para a história
de nossa região.
Naquele
domingo, 21 de setembro de 2008, a notícia da morte de Flavio Florence tomou de
imensa tristeza todos nós, seus amigos e admiradores. O ABC perdia uma das
maiores personagens do seu cenário artístico e cultural.
Nesse mesmo
dia, às 15h00, após uma pequena multidão ter velado seu corpo no Saguão do
Teatro Municipal de Santo André, quando na saída da urna com o seu corpo em
direção ao carro funerário que o levaria para o Crematório da Vila Alpina e o aplaudíamos
pela última vez, um vazio enorme pairava sobre aquele espaço onde tantas vezes
FF nos proporcionou momentos musicais inesquecíveis.
Perdíamos
um talentoso artista e admirável homem de cultura que muito contribuiu para a
projeção da arte e da cultural da nossa região, responsável, ao longo de duas
décadas, pela formação de um público fiel para a música de concerto. Era a
sensação de perda de um irmão de quem nunca privei de intimidade, mas com quem
tive o privilégio de tê-lo como contemporâneo e cúmplice próximo, no campo da
arte e do pensar.
No texto
que publiquei em meu blog, lembrava as inúmeras vezes em que minha trajetória
de vida cultural e intelectual, durante duas décadas, cruzou com a dele, desde
o concerto inaugural da Orquestra Jovem de Santo André, em 24.4.88, ao qual
assisti ao lado de toda a família, até seu último e comovente concerto, em 25
de maio do ano de sua morte, quando Flavio subiu ao palco do Teatro Municipal
de Santo André, visivelmente fraco e
cambaleante. Mal movia a batuta, regia com o olhar, acrescido do fogo ainda
aceso de sua arte e da vontade inabalável de uma vida dedicada à arte (A música
é minha vida, dizia). A enfermidade vencia, ali, a batalha que tão dignamente
durante dois anos, ele havia travado com ela.
Em maio de
1992, junto aos poetas do Grupo Livrespaço, do qual eu era uma das integrantes,
subimos ao palco do Teatro Municipal de Santo André e lemos poemas/releituras
de Mário de Andrade, nos intervalos das peças de Villa-Lobos, executadas pela
orquestra que ele, sempre tão brilhantemente, regia, naquela ocasião, lembrando
e celebrando os 70 anos da Semana de Arte Moderna.
Fomos
colunistas no Diário do Grande ABC no mesmo período de quase 5 anos; Como
membros fundadores da Associação Pró-Música do Grande ABC, integramos também a
diretoria daquela instituição.
Por duas ocasiões,
nos anos 1990, FF ministrou na Livraria
Alpharrabio, o curso Música Clássica
para Leigos. Com invejável cultura, clareza e didatismo, ele esclarecia os
principais pontos da história da música ocidental, dando ênfase ao efeito
antecessor e contribuindo para que nos tornássemos amantes da música clássica.
Aliás,
lembro com muito orgulho sua inestimável colaboração na programação cultural da
Livraria Alpharrabio, como, por exemplo, em 2004, quando levou, para uma
memorável Conversa de Livraria, o maestro português Álvaro Cassuto, que se
encontrava em nossa cidade para reger, como maestro convidado, a nossa
Orquestra ou, ainda, quando, em 2006, com muita erudição e pertinência,
comentou o filme “Nelson Freire”, de João Moreira Salles, dentro do ciclo de
Documentários Prova dos Nove, com a competência e erudição de sempre.
Ainda que
isto pareça auto-referencial, faço-o apenas para dizer o quanto me orgulho do
privilégio em tê-lo como contemporâneo e parceiro.
Assim,
termino este meu singelo depoimento, lendo um poema que fiz numa inesquecível
tarde de abril de 1994, em sua residência, quando ele ministrou a um pequeno
grupo a aula de encerramento do Curso “Música de Concerto Para Leigos”. Ouvimos
Debussy e Shoenberg comentados por ele de forma didática e, como sempre,
bem-humorada.
Anticoncerto de domingo
(às margens da Represa
Billings)
para Flávio Florence
Valsas de guerra
para garças desavisadas
: o primeiro susto
de um cálido encontro
de inverno
Poemas de Verlaine,
Debussy, tardes e
faunos
(profana sagração)
: o segundo susto
no bunker improvisado
Irreverência
hierárquica de Schoenberg
revolução de Stravinsky
(Pássaro de Fogo a
dançar)
: o terceiro susto
fuga justificada
(Crianças e algazarra
em incessante correr
passam ao largo de
conceitos musicais
: música apenas para os
sentidos)
Na dramaticidade
inocente dos corpos
as crianças
querem apenas correr
(a arte já está com
elas - intrínseco ritmo
constante sobressaltar)
Sua batuta permanece em nós, orquestrando lembranças dos momentos
memoráveis que nos proporcionou, bem como seu inestimável legado que,
certamente, prosseguirá na cada vez mais vigorosa existência da Orquestra e dos
Coros. dtv
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