quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

solidões da memória – notícias e impressões de leitura – III

Nesta terceira postagem da série que reúne notícias e impressões críticas de leitura sobre o meu mais recente livro “solidões da memória”, registro aqui sensível abordagem da jornalista Sonia Nabarrete, publicada no Jornal ABCDMaior, em 20.01.2016, nas versões impressa e virtual: Clic AQUI para ler o original.

Dalila Teles Veras faz de memórias poesia

Depois de 24 anos à frente da Alpharrabio, escritora reafirma compromisso com a cultura regional

Aos 11 anos, Dalila Teles Veras deixou Funchal, na Ilha da Madeira, onde nasceu, para viver em São Paulo, no Brasil, acompanhando a família que fugia das dificuldades pós-guerra. De lá, trouxe lembranças e sentimentos, que se transformaram em matéria-prima para muitos poemas. Alguns deles estão em seu último livro, Solidões da memória.
“Não é um livro de memórias, e sim de poesias”, esclareceu Dalila, que até nas fotos presentes na obra, que têm a ilha portuguesa como cenário, fez questão de dar um tratamento que deixasse os contornos esfumaçados para passar a ideia de algo onírico. Ela explicou que neste trabalho, como acontece em toda sua produção poética, criou a partir de fatos reais e vivências, que foram totalmente transfigurados.
O novo livro também consolida sua busca pela concisão. “Bem antes da internet, que criou a tendência de textos curtos, eu já procurava dizer muito com pouco”, conta Dalila, que começou a gostar de literatura, e em especial de poesia, ainda criança, incentivada por duas grandes leitoras da família, a mãe e a avó. Com o tempo, esse encantamento pela leitura só aumentou. Escreveu poemas em várias publicações e hoje soma 16 livros de poesia, entre os mais de 20 que publicou. A Ilha da Madeira está presente em três deles: Madeira: do vinho à saudade, Estranhas formas de Vida, em referência a uma canção de Amália Rodrigues e que tem as epígrafes de todos os poemas retiradas de fados, e o recém-lançado solidões da memória.
O último livro desta trilogia começou a ser preparado em 2014, quando esteve na ilha com este objetivo. Quando o material já estava praticamente pronto, encontrou uma caderneta, com anotações de outra viagem, feita em 2012, onde havia praticamente montado o roteiro do livro. “Juntei o material e me lembrei que, antes disso tudo, havia visitado uma exposição chamada Rizoma, que remete à raiz, e que, na verdade, ali tinha começado a nascer o livro”, relatou Dalila, impressionada com a capacidade de armazenamento das memórias pelo cérebro humano, de onde se pode tirar, muito tempo depois, a lembrança inspiradora.


Alpharrabio surgiu como espaço para escritores
Desde 1972, quando se casou com o também escritor Valdecírio Teles Veras, Dalila vive em Santo André, onde participa ativamente da vida cultural da cidade e de todo o ABCD. Durante 11 anos, esteve à frente do Grupo Livrespaço, que reunia escritores e manteve uma revista, premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte.
Os escritores da Região precisavam de um lugar para se reunir, conversar, produzir e lançar seus livros. Foi assim que nasceu a Alpharrabio, misto de livraria e editora, que em fevereiro completa 24 anos de atividades como um verdadeiro centro cultural.
Dalila confessa que, como negócio, a Alpharrabio, sediada em Santo André, nunca deu lucro, mas se firmou como um dos espaços mais importantes para a cultura do ABCD. “Lançamos mais de 200 livros, 98% deles de autores da Região, e abrimos espaço também para os artistas plásticos, realizando pelo menos quatro grandes exposições por ano, além de sediar, há oito anos, o Fórum Permanente de Debates Culturais”, disse a escritora, que dirige a Alpharrabio com o apoio da cunhada, Luzia Maninha Teles Veras.
LER É PRECISO
Dalila é muito procurada por jovens autores, que buscam sua bênção para o que escrevem. A todos, recomenda que leiam muito. “Ninguém se torna escritor se não for, antes, leitor. É preciso ler muito para criar referência do que é bom. É fundamental conhecer Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Fernando Pessoa, Mário de Andrade, Cecília Meireles, Castro Alves, entre muitos outros”, disse a poeta.
Para ela, não tem sentido o argumento de alguns autores que alegam não ler para não se deixar influenciar. “É natural tentar escrever como alguém que a gente admira. Mas, aos poucos, o autor se liberta e encontra a própria voz.

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