quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A memória e suas solidões

"Do lado esquerdo carrego meus mortos. 
Por isso caminho um pouco de banda."
                 Carlos Drummond de Andrade

Hoje, precisamente hoje, a Ilha da Madeira, minha terra natal, perdeu uma de suas talentosas bordadeiras, minha prima Maria Teresa Agrela, a nossa Teresinha. Morreu, dizem-me, serenamente sentada em sua poltrona predileta (bordando?) aos 86 anos de idade. Ficarão seus delicados bordados sobre as mesas e aparadores das pessoas que amou e a quem generosamente os presenteava. Ficarei com a memória dos sabores de seus assados e de seu pão (no forno a lenha), como estes, que preparou para me receber em agosto de 2014.




A Madeira vai sendo povoada pelos meus mortos e minhas solidões da memória que só a poesia poderá dar conta. 

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

solidões da memória

Livrinho novo (solidões da memória) recebeu o ponto final, após dois anos no forno. Agora é publicar ou publicar. Como não escrevo para a gaveta,  publicar é uma maneira de me "livrar" do livro e iniciar novo projeto literário (já cá tenho um em início de gestação). Caso contrário, será sempre um livro sem fim, pois cada vez que volto a um original quase sempre vejo ali uma possibilidade de algum tipo de intervenção.
Aqui o poema que dá início ao livro e ao "mote" que o norteia:

rizoma
    
            "vestígios de pegadas nas areias, / restos d´ossos roídos e d´espinhas"
                            António Barahona


a infância e a memória 
da infância, submersa
na líquida travessia

vez por outra
o atlântico deposita
ossos datados
nas terras do exílio

(a menina antiga
recebe os sinais
códigos esquecidos
legendas para o lembrar
- revivências)

a memória da infância
é a memória possível
(e só à poesia cabe recriar)


domingo, 18 de janeiro de 2015

bárbaros são os outros

aqui no bunker, pensando
pum... pum... pum... e o condenado é morto, assim... pum... pum... pum... e nem sequer há remorsos dos atiradores, a (s) bala (s) sempre podem ter saído do outro atirador. terrível é pensar que a violência e intolerância não estão apenas nessas poucos projéteis disparados em Jacarta, mas também nas palavras e nos gestos cotidianos, ditas/praticados bem aqui ao nosso lado, ali, além, em todo planeta. Mais terrível ainda é ver gente "do bem" defender pena de morte e extermínio de quem não não fala sua língua (os bárbaros sempre são os outros).

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Retorno com poema

Voltei (ou tento) voltar aos caminhos virtuais. Com o Poeta, diria que ficaram velhas todas as notícias.
Li muito (ou ainda mais) no tempo que havia sido reservado ao ócio, mas não foi. Escrevi freneticamente também. Coloquei um ponto final no novo livrinho, Solidões da Memória.
Cada vez mais estou convencida de que a poesia é imprescindível à sobrevivência (ao menos da minha).
Marco meu retorno ao espaço virtual, com um poeminha:

Poética (*)
     "Atravessar as coisas / para melhor absorver-lhes / a duração e o gosto."
                          Donizete Galvão

desprezar
a macieza da superfície
a enganosa lisura
observar
as imperfeições
as fendas invisíveis
empreender a tarefa
: escavar
a coisa, a pedra, a letra
até que a solidez do corpo
e o equilíbrio do poema
se revelem


(*) poema de dtv integrante da coletânea "Outras Ruminações", Dobra Editorial, SP, finalzinho de 2014, livro em homenagem ao poeta Donizete Galvão, no qual seus poemas são "relidos" por cerca de 70 poetas.
Que 2015 nos traga um pouco mais de leveza do que prenuncia este seu início. Saudações fraternas a todos

domingo, 4 de janeiro de 2015

Intervalo

Despeço-me (por um tempo) deste país virtual para um mergulho mais fundo e completo no meu país real e particular. Primeiro celebrar (e muito - a festa é também rito e necessidade vital - só não pode ser todo dia porque aí cansa...), por estar viva, com saúde e rodeada dos que amo. Depois dar conta da pilha de livros que o bom velhinho deixou por aqui (ele adivinha sempre meus desejos). Poesia, muita poesia. Não porque é novo o ano, mas porque dela me nutro todos os dias de todos os anos. Até qualquer dia... Prometo voltar menos preguiçosa neste 2015 (dtv)