Dando
prosseguimento ao registro de algumas notícias e impressões de leitura sobre o
meu livro solidões da memória, esta segunda postagem remete a dois textos, o primeiro, assinado
pelo poeta e professor Demetrios Galvão, de Teresina, Piauí, publicado em 24.12.2015, na
sua coluna “janelas em rotação” do portal Cidade Verde
“recentemente
conheci a poeta Dalila Teles Veras e devo dizer que, foi um desses
encontros que só a literatura pode proporcionar. além de termos participado de
uma mesa redonda falando sobre nossos fazeres poéticos e perspectivas sobre a
literatura, esticamos o papo e fiquei maravilhado com essa figura humana que
tem uma poesia tão bonita e sensível. nesse encontro trocamos nossos livros e
levei na mochila o seu "Solidões da Memória". leitura que recomendo a
todos que gostam de uma boa poesia.
pois bem, acabei de postar em meu blog um pequeno perfil biográfico da Dalila e
3 poemas do seu último livro. confiram:
Dalila
(Isabel Agrela) Teles Veras, natural do Funchal, Ilha da Madeira, Portugal,
(1946), emigrou com a família para o Brasil (São Paulo, Capital), em 1957. Em
1972, após seu casamento com o advogado e escritor Valdecirio Teles Veras,
radicou-se em Santo André.
Publicou
mais de uma dezena de livros, nos gêneros poesia, crônica e o livro "Minudências",
um diário do ano de 1999. Participou de inúmeras antologias no país e no
exterior. Possui trabalhos (artigos, ensaios e textos literários) publicados em
jornais e revistas de todo o país e do exterior. Atua à frente da livraria,
editora e espaço cultural Alpharrabio.
Entre
os vários livros publicados estão: Lições de Tempo (1982); Inventário Precoce
(1983); Madeira: do Vinho à Saudade (1989); Elemento em Fúria (1989);
Forasteiros Registros Nordestinos (1991); Poética das Circunstâncias (1996); A
Palavraparte (1996); A Vida Crônica (1999); As Artes do Ofício - um olhar sobre
o ABC (2000); Minudências (diário) (2000); À Janela dos dias - poesia quase
toda (2002); Vestígios (2003); Poesia do Intervalo (2005); Solilóquios (2005);
Pecados (2006); Retratos Falhados (2008); Solidões da Memória (20150).
Os
poemas aqui publicados são do seu último livro “Solidões da Memória”, lançado
ainda no mês de dezembro.
Para
saber mais sobre a poeta é só acessar
rizoma
vestígios de pegadas nas areias
restos d’ossos roídos e d’espinhas
António Barahona
a
infância e a memória
da
infância, submersa
na
líquida travessia
vez
por outra
o
atlântico deposita
ossos
datados
nas
terras do exílio
(a
menina antiga
recebe
os sinais
códigos
esquecidos
legendas
para o lembrar
–
revivências)
a
memória da infância
é
a memória possível
(e
só à poesia cabe recriar)
cartografia
soletrada
quietos fazemos as grandes viagens
José Tolentino Mendonça
o
tio
(marinheiro,
remetia
cartões
postais
dos
portos por onde
atracava
seu navio
ulisses
consanguíneo
sempre
voltava para
contar,
no seu
contar/inventar
reinventava-se
ficcionava-se)
soletrava
cartografia
no
imaginário da
destinatária
passagem
porque não sou desta ilha, cresceram-se
as asas que me afastam e desesperam
José Viale Moutinho
ansiado
o
fogo de dezembro
coroava
de assombros os
corpos
bordados por urtigas
as
pernas grossas de ladeiras
os
olhos da mesma paisagem
(o
fogo, artifício
intermitência
do existir)
ano
findo, meia noite
em
ponto, os apitos dos vapores
invadiam
terraços e janelas
nos
parapeitos, iluminados
estremeciam-se
corpos
e ilha
o
mar, vagas ocultas
acendia-se
em
esplendor
em
fogo, os olhos
virgens
de incêndios
armazenavam
centelhas
(reserva
e antídoto à monotonia
do
novo e igual calendário)
alvoroço
para
o poema vindouro
O segundo texto, publicado no mesmo dia 24.12.2016 na revista A.Poética, editada por Maria Fernandes, no
Funchal, destaca o lançamento do livro solidões da memória:
Foi apresentado no passado dia 4 de Dezembro “Solidões da
Memória”, o mais recente trabalho de Dalila Teles Veras. O livro, sob a
chancela conjunta da Alpharrabio Edições e da Dobra Editorial foi apresentado
na Casa das Rosas, em São Paulo e encerra um conjunto de poemas inspirados nas
memórias da autora: a sua primeira infância passada na Ilha da Madeira, onde
nasceu e a viagem transatlântica que empreendeu com a família, rumo ao Brasil
onde reside até hoje.
Do livro, escreve o poeta Tarso de Melo em carta à
autora, publicada no livro a título de posfácio:
“(…) me agrada muito a ideia de uma trilogia composta por Madeira: do vinho à saudade (que é 1989!), estranhas formas de vida e este solidões da memória, formando uma “trilogia das raízes” dentro da sua obra.(…) Em solidões da memória, parece-me que esta ideia de uma poesia que revira as memórias, que revira seus próprios fundamentos, não para se prender a eles, mas para pensar as incertezas do presente com a intensidade ganha no contato com as raízes, tensionando-as, é ainda mais forte que nos outros livros da “trilogia”. Não por acaso, logo no primeiro poema encontramos: “a memória da infância/ é a memória possível/ (e só à poesia cabe recriar)”. E eu até diria, torcendo um pouco seu verso: “e à poesia só cabe recriar” (a si e à memória). Isto fica claro em vários momentos, como na “madeira [que] não é apenas fotografias”, em “confidência da madeirense”, e na excelente “caderneta de anotações”, cuja provisoriedade denota também uma dificuldade ou até impossibilidade de cristalizar a memória, porque quer mesmo pegá-la viva. Outro aspecto de que gostei bastante é o esforço para desconstruir a “ilha” ou aquilo que você chama de “insularidade”, que é, ademais, um óptimo título! Se usamos “ilha” para dizer “isolamento”, o que ressalta de seus poemas é um retrato de uma ilha (real) que se esparrama (na memória, no tempo, no espaço) e cria contactos que a “des-insulam” ou “des-isolam”. Uma ilha (vivida, lembrada) que não pode ser contida – em fotos, em fatos, em fados. Vai além. Transborda. Coloca em xeque até mesmo as “solidões” que o título destaca, mas que o faz no plural, desde aí revelando a pluralidade da própria memória. Talvez por isso agora não caibam apenas as epígrafes dos fadistas, mas a poeta tenha que recorrer ao diálogo com poetas – daqui e de lá – que foram lidos ao longo da vida, dando conta das transformações dessa memória.”
“(…) me agrada muito a ideia de uma trilogia composta por Madeira: do vinho à saudade (que é 1989!), estranhas formas de vida e este solidões da memória, formando uma “trilogia das raízes” dentro da sua obra.(…) Em solidões da memória, parece-me que esta ideia de uma poesia que revira as memórias, que revira seus próprios fundamentos, não para se prender a eles, mas para pensar as incertezas do presente com a intensidade ganha no contato com as raízes, tensionando-as, é ainda mais forte que nos outros livros da “trilogia”. Não por acaso, logo no primeiro poema encontramos: “a memória da infância/ é a memória possível/ (e só à poesia cabe recriar)”. E eu até diria, torcendo um pouco seu verso: “e à poesia só cabe recriar” (a si e à memória). Isto fica claro em vários momentos, como na “madeira [que] não é apenas fotografias”, em “confidência da madeirense”, e na excelente “caderneta de anotações”, cuja provisoriedade denota também uma dificuldade ou até impossibilidade de cristalizar a memória, porque quer mesmo pegá-la viva. Outro aspecto de que gostei bastante é o esforço para desconstruir a “ilha” ou aquilo que você chama de “insularidade”, que é, ademais, um óptimo título! Se usamos “ilha” para dizer “isolamento”, o que ressalta de seus poemas é um retrato de uma ilha (real) que se esparrama (na memória, no tempo, no espaço) e cria contactos que a “des-insulam” ou “des-isolam”. Uma ilha (vivida, lembrada) que não pode ser contida – em fotos, em fatos, em fados. Vai além. Transborda. Coloca em xeque até mesmo as “solidões” que o título destaca, mas que o faz no plural, desde aí revelando a pluralidade da própria memória. Talvez por isso agora não caibam apenas as epígrafes dos fadistas, mas a poeta tenha que recorrer ao diálogo com poetas – daqui e de lá – que foram lidos ao longo da vida, dando conta das transformações dessa memória.”
Em apresentação nas badanas da obra, diz Rosana Chrispim:
“ Cada um dos poemas (re)constrói o resgate e a memória,
revelando imagens que, ao fim e ao cabo, podem espelhar, cristalizar a memória
própria de quem os lê. Inteiros, intensos e intensamente delicados são precisos
(nada neles ultrapassa ou falta) e formam um conjunto, tão precioso quanto uma
sobremesa harmonizada com um vinho. Convidam. O belo e pungente texto ao final,
tem o sabor de uma prosa poética e mostra o caminho da poeta por si mesma.
Cristalino de corpo e alma.”
O A.Poética iniciou já na edição passada a
divulgação de alguns poemas desta obra sendo que o segundo poema está contido
na presente edição.
veja a publicação original do A.Poética, clicando AQUI
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