Carlos Machado, conhecido como generoso e incansável
divulgador da poesia brasileira – criou e edita o site “Alguma poesia” e o
precioso boletim semanal, poesia.net, com abordagens críticas de poetas,
na sua maioria, brasileiros contemporâneos - é, antes de tudo, um poeta
brasileiro dos melhores e que bem merecia estar mais estudado e divulgado, ao
menos na mesma medida em que o faz com seus pares.
Jornalista, nascido na Bahia e residente em Paulo, cursou
engenharia mecânica na UFBA e, em São Paulo, jornalismo na Faculdade Cásper
Líbero. Publicou “Pássaro de vidro”, SP, Hedra, 2006, Mané Ventura, Gonçalo e
eu – uma história de cordel. São Paulo: Ed. do autor, 2012; cada bicho com seu
capricho, poemas para crianças, MOV Palavras, 2015 e Tesoura Cega, pela Dobra
Literatura, selo Donizete Galvão, 2015.
Este seu último belo livro revela e (re)afirma um
poeta de sintaxe singular, com seus temas recorrentes (a memória, o cotidiano,
a poesia, o tempo) tratados com linguagem erudita sem pedantismo e um olhar de
quem passeou longa e sabiamente por toda a história da literatura. Carlos sabe
dizer dos poetas e da poesia alheia como ninguém, mas sabe muito mais elaborar
sua própria obra que vai se firmando na centralidade do universo que ele, com
tanto empenho, comenta e divulga com tanta propriedade.
Um poeta crítico merecedor de todas as homenagens, às quais
incluo esta, ainda que que singela.
PUNHOS
o
tempo tem punhos
de
renda
e
toda a cerimônia dos
carrascos
na
mão direita três
punhais:
ponteiros
de metal
cravados
na
pele fria de cada
hora
que vai
Pastelaria
Triunfo
Foi
na pastelaria Triunfo,
uma
casa de comércio na
Cidade
da Bahia – mas também
um
locus suspenso na memória
de
meu amigo Santana -,
que
se deu aquele episódio
de
criança, luzes, sorvetes
e
alumbramento. Cada um
de
nós tem sua Pastelaria Triunfo,
seu
porto de sonhos à prova
de
vento e desterro. Não importa
se
um dia o lugar existiu
de
física presença – na Ladeira
da
Praça, na Graça, na Praça
da
Sé – ou é apenas miragem,
amarrotado
desvario que
mantém
o homem vivo.
(Tesoura Cega)
Com
alegria, dias atrás, recebo a edição nº 1.363 (dez. 2015) do Suplemento de
Minas Gerais, um dos mais antigos e respeitáveis do país e, nele, página
inteira, 4 poemas de Carlos Machado enchem a vista e o sentir estético. Eis um
deles (livro novo à vista):
Néon
Com
a calma cínica
do
pó,
o
cortejo trágico do mundo
acende
neóns
à
porta das farmácias.
E
espera.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirGenerosidade: Dalila presenteia em virtude de Carlos Machado, e a própria poeta. A palavra amplia em sentidos.
ResponderExcluirobrigada, Edson, por sua constante leitura. Generoso, também.
ExcluirQue retomada vibrante do blog, Dalila. Uma bela seleção de poemas a nos provocar o desejo de percorrer Carlos Machado. Vamos lá,pois! Um abraço e boas escritas!
ResponderExcluiro poeta Carlos Machado merece, sim, Adélia, ser lido. Tente. Abraço grato
ExcluirPoemas como gosto, fortes, vão ao ponto, poeticamente sem dó.
ResponderExcluirPoesia, você sabe, cara Deise, não é "afago", mas soco no estômago, "forte", sim. Abraço
ExcluirDalila, Você e o Carlos Machado, duas janelas inimigas das gaiolas, e ancilares dos voos, constantemente elevando. Há um e-mail enviado por mim ao seu endereço: - dalila@alpharrabio.com.br - se não extraviou estará por lá. Excelente retorno à Janela, abraço.
ResponderExcluirMiro.
Muito obrigada, Miro. Não vi o email. Vou à procura.
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