quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

do poeta Carlos Machado e da poesia.net


Carlos Machado, conhecido como generoso e incansável divulgador da poesia brasileira – criou e edita o site “Alguma poesia” e o precioso boletim semanal, poesia.net,  com abordagens críticas de poetas, na sua maioria, brasileiros contemporâneos - é, antes de tudo, um poeta brasileiro dos melhores e que bem merecia estar mais estudado e divulgado, ao menos na mesma medida em que o faz com seus pares.
Jornalista, nascido na Bahia e residente em Paulo, cursou engenharia mecânica na UFBA e, em São Paulo, jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. Publicou “Pássaro de vidro”, SP, Hedra, 2006, Mané Ventura, Gonçalo e eu – uma história de cordel. São Paulo: Ed. do autor, 2012; cada bicho com seu capricho, poemas para crianças, MOV Palavras, 2015 e Tesoura Cega, pela Dobra Literatura, selo Donizete Galvão, 2015.
Este seu último belo livro  revela e (re)afirma um poeta de sintaxe singular, com seus temas recorrentes (a memória, o cotidiano, a poesia, o tempo) tratados com linguagem erudita sem pedantismo e um olhar de quem passeou longa e sabiamente por toda a história da literatura. Carlos sabe dizer dos poetas e da poesia alheia como ninguém, mas sabe muito mais elaborar sua própria obra que vai se firmando na centralidade do universo que ele, com tanto empenho, comenta e divulga com tanta propriedade.
Um poeta crítico merecedor de todas as homenagens, às quais incluo esta, ainda que que singela.





PUNHOS 
o tempo tem punhos
de renda

e toda a cerimônia dos
carrascos

na mão direita três
punhais:

ponteiros de metal
cravados

na pele fria de cada
hora que vai

(de Pássaro de Vidro)






Pastelaria Triunfo

Foi na pastelaria Triunfo,
uma casa de comércio na
Cidade da Bahia – mas também
um locus suspenso na memória
de meu amigo Santana -,
que se deu aquele episódio
de criança, luzes, sorvetes
e alumbramento. Cada um
de nós tem sua Pastelaria Triunfo,
seu porto de sonhos à prova
de vento e desterro. Não importa
se um dia o lugar existiu
de física presença – na Ladeira
da Praça, na Graça, na Praça
da Sé – ou é apenas miragem,
amarrotado desvario que
mantém o homem vivo.
        
             (Tesoura Cega)

Com alegria, dias atrás, recebo a edição nº 1.363 (dez. 2015) do Suplemento de Minas Gerais, um dos mais antigos e respeitáveis do país e, nele, página inteira, 4 poemas de Carlos Machado enchem a vista e o sentir estético. Eis um deles (livro novo à vista):

Néon

Com a calma cínica
do pó,
o cortejo trágico do mundo
acende neóns
à porta das farmácias.


E espera.






9 comentários:

  1. Generosidade: Dalila presenteia em virtude de Carlos Machado, e a própria poeta. A palavra amplia em sentidos.

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  2. Que retomada vibrante do blog, Dalila. Uma bela seleção de poemas a nos provocar o desejo de percorrer Carlos Machado. Vamos lá,pois! Um abraço e boas escritas!

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    1. o poeta Carlos Machado merece, sim, Adélia, ser lido. Tente. Abraço grato

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  3. Poemas como gosto, fortes, vão ao ponto, poeticamente sem dó.

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    1. Poesia, você sabe, cara Deise, não é "afago", mas soco no estômago, "forte", sim. Abraço

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  4. Dalila, Você e o Carlos Machado, duas janelas inimigas das gaiolas, e ancilares dos voos, constantemente elevando. Há um e-mail enviado por mim ao seu endereço: - dalila@alpharrabio.com.br - se não extraviou estará por lá. Excelente retorno à Janela, abraço.
    Miro.

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