sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Diário (quase íntimo) 2013

janeiro 31 - quinta

a poesia do alpha
a prosa do alpha
a escrita de si do alpha

Inventário para a
maioridade

Alinhavar acontecimentos

Regate de histórias
para uma possível História

      (tarefa insana)


quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Diário (quase íntimo) 2013

janeiro 30 - quarta

"Palavra
    Poder para o Povo"

"Periferia conectada
  centro conectado
  a poesia movimenta"

Vi, ouvi, calou...

(Ficar atento. Talvez
algumas respostas
venham daí)

Sarau Conexão Poética
SESC Santo André



Diário (quase íntimo) 2013

janeiro 29 - terça

Michelangelo
      Pietá em relevo
palpite da amiga poeta
 (Vittoria Colonna)
confidente do mestre
            renascentista
Os esplendores do Vaticano aqui
                 na Oca
(esplendorosa obra de outro gênio

             - o nosso)


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Diário (quase íntimo) 2013

janeiro 28, segunda

Vozes
    (coral indignado)
denunciam
       desmandos
a cidade vive
       (pensa
projeta
     e critica)

     propõe


segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Diário (quase íntimo) 2013

janeiro 27 - domingo

Santa Maria, RS

A dor de saber
   tantos em dor
231 jovens mortos
(dançavam, a dança
   da juventude e da
  vida, sem saber que
era a festa
             derradeira)
       
Mães que eram e já não o são...
pais, irmãos, amigos

         dor, dor...


Diário (quase íntimo) 2013

janeiro 26 - sábado

pião
bola de gude
corda de pular
pedrinhas
rodas
peteca
elásticos
- a rua

o brincar como prática
        a resgatar
brinquei
    brincamos

(avô-pais-netos-tias)


sábado, 25 de janeiro de 2014

Diário (quase íntimo) 2013

janeiro 25, sexta

"Nuvens vêm sem aviso
         vão sem promessas"

Yu Xuanji (844-869)
     poeta chinesa
     Dinastia Tang

(inestimável achado :
    - Poesia completa de
      Yu Xuanji - Unesp, 2011)

noite sem nuvens

        1:20h


sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Diário (quase íntimo) 2013

janeiro 24, quinta

        cúmulos nimbos
uma centelha
        os desfaz
(tempestade adiada)




quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Diário (quase íntimo) 2013

janeiro 23, quarta

papéis, papéis
livros, livros
máquinas, máquinas
aparelhos, aparelhos
(avariados, sem uso
   ultrapassados, sempre)

A sociedade do excesso
gera apatia
(o que rasgar?
 o que ler?

 o que usar?)


quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Diário (quase íntimo) 2013

janeiro 22, terça

Indignação
    vs
Ternura

Alternâncias
reguladoras

Oscilações necessárias
a manter a temperatura

- O pavor da mornidão

                   motor 


Diário (quase íntimo) 2013

janeiro 21, segunda

Cento e cinquenta
ouvem
um político equivocado
afundado
   em falsas premissas:

As políticas públicas
ao Deus dará
à mercê de equívocos
e acordos políticos

Triste cidade
Triste tempos de

              retrocesso


Diário (quase íntimo) 2013

janeiro 20, domingo

Um fotógrafo com nome de poeta
que é poeta também
    (German Lorca)
lembra São Paulo

Um prato que lembra
essa cidade dos anos 50/60 também
     (ossobuco do Gigeto)
Um filme que evoca
        outra cidade
( Berlim oriental)

Cidades, sempre, na
minha mira e
   na mira alheia
     - interesses -



Diário (quase) íntimo 2013


janeiro 19, sábado

"once upon a midnight dreary
while I pondered, weak and weary,"
"Numa meia-noite feia, quando eu lia, lento e triste,"

O corvo, 168 anos depois
Poe e Pessoa, relidos
no dia do 204º aniversário
de Poe 

grande poema, grandes poetas

sábado, 18 de janeiro de 2014

Attila József



Provocada pela amiga Margarita Olga Lo Russo, pesquisadora sempre à busca de tesouros escondidos, que me perguntava se conhecia o poeta húngaro Attila József, recém-descoberto por ela num sebo de Buenos Aires, saí à caça aqui nas minhas prateleiras. Sabia que havia lido alhures algo, mas a memória falhava. Até que... Aqui está.

Comecemos por este cortante, preciso, poema metalinguístico:

Quando se faz poesia, o certo
é tudo, menos ela:
em vez de terra, o mar aberto,
em vez de rodas, vela.

Quando se faz poesia, o certo
seria não fazê-la.

Este poema integra uma adorável plaquete, "Canção Antes da Ceifa" - poesia húngara do século 20, tradução do também poeta (de ascendência húngara) Nelson Ascher e prefácio de Paulo Rónai (que ressalta as dificuldades de verter poesia húngara, "pouco menos que impossível), publicada em 1990 pela Arte Pau-Brasil (201 exemplares - o meu é o de nº 132). 30 poemas de 9 poetas, dentre eles, Attila que é contemplado com 6 traduções e um fac-símile de um poema manuscrito. 




O poema que transcrevo também faz parte de um charmoso marca página (parte integrante da plaquete) que reproduz uma foto do poeta. 




De Attila diz o tradutor: "o maior dentre todos os poetas políticos, autor de uma obra densa na qual se enlaçam Marx e Freud, um gênio faiscante que se atirou, aos 32 anos, sob um trem de carga."
O desencanto e a "morte anunciada", nestes outros poemas

Para meu Aniversário

Fiz trinta e dois anos agora
e este poema os comemora
      repenti-
      namente;
sou eu sozinho que me oferto
no canto de um café deserto o
      presente
      presente
Trinte e dois anos foram vento;
jamais ganhei nem meu sustento.
      Que terra
      megera!

Quase fui mestre e não poeta
que esbanja assim sua caneta
       sem eira
       nem beira
Mas fui banido, sem apelo,
da faculdade em Szeged pelo
        docente
        demente.
Ele advertiu-me grosso e greve;
devido ao meu "Coração leve",
         de espada
         em guarda,
defendeu, contra mim, a pátria
e, a conjurar minha alma ingrata,
          fez esta
          promessa:
"Enquanto aqui for eu quem manda,
não darás aulas nestas bandas."
           Brilhava
           de raiva.
Se o Doutor Horger tem, contudo,
prazer em ter me obstado o estudo,
            é ganho
            tacanho.
Pois se instruir meu povo inteiro
não só no grau mais corriqueiro,
             venci no
              ensino.

CORAÇÃO LEVE

Não tenho pai nem mãe
nem deus nem pátria-amada
nem berço nem caixão
nem beijo ou namorada.

Há três dias não como
nem muito ou mesmo pouco.
Meus vinte anos são tudo;
meus vinte vendo ou troco.

Caso ninguém os queira,
o diabo que os arrende.
meu coração nem pesa
se roubo ou mato gente.

Sou preso, executado,
no chão santo acolhido
e erva letal recobre
meu coração garrido.

Eis aí um poeta (mais) trágico, que morreu cedo e viveu as agruras de um país em permanente conflito de fronteiras. Impressiona a intertextualidade e as referências aos acontecimentos levadas poeticamente ao limite. 

Não é muito, mas também não é pouco, na ausência quase total de versões para nossa língua de poetas húngaros e de outros países da Europa Oriental. O pouco que, para mais uma vez ficar com Rónai, que "deixa mais perto". (dtv)
   


Diário (quase íntimo) 2013

janeiro 18, sexta

querer não é poder
querer, eu quero
mas já não posso
           não posso
muito quero

pouco posso


sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Diário (quase íntimo) 2013

janeiro 17, quinta

"o beduíno árabe se considera superior às
demais espécies de homem, porque é só no seu mundo inóspito e hostil que se pode alcançar a plenitude da "murua".
Por isso ele é o mais perfeito, o mais nobre, o mais bonito, o mais forte, o mais capaz, o mais livre o mais feliz" (Os Poemas suspensos)

Salve Manuel Agrela
filho de al-Madeira
descendente direto de beduínos
herdeiro de suas legítimas
convicções!
(só agora descubro
- pela poesia)





quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Diário (quase íntimo) 2013

janeiro 16, quarta

O pé de orquídea
derrama ouro no jardim
resposta sutil

à ausência de cuidados


Diário (quase íntimo) 2013

janeiro 15, terça

Filipe
descobre o calendário
e quer decifrar
       o tempo
("depois que ficar de

noite, é amanhã")

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Diário (quase íntimo) 2013

Acato sugestão de amigos e passo a publicar também aqui no blog meu diário (manuscrito) de 2013 que venho publicando no Facebook. A justificativa: aqui, os textos e as imagens ficarão "arquivadas" e disponíveis, ao passo que lá... desaparecem.
Assim, de uma só assentada, os publicados até hoje. A partir de amanhã, um por dia, como deve ser.


Diário (quase íntimo) 2013
janeiro 02, quarta



Facebook
100 amigos ao 2º Dia!
Caras e corpos
conhecidos
saídos da rua
para a rede
A vida mediada
pela tela?

       ????


janeiro 03, quinta



Um Prêmio
         Literário
( SIM  X   
         X   NÃO)
Julgar, o dilema
Sim ou não?
Sentenças

(duvidosas, ambas)

janeiro 04, sexta




Falta-me um
      Calendário
e o Novo Ano
avança
sem que eu
possa fazer um
        X
nos dias
que já não são



janeiro 05, sábado



Fotografias
      no Parque
              (Água Branca)
conversas
               (raízes partilhadas)
sorvete de chocolate
              (menino lindo)
Woody homenageado
             (Paris-Manhanttan)
Queijo Quente
             e uma média
                    completam
                        o dia


janeiro 06, domingo




Atravessar a cidade
(do Sul ao Norte)
para (re)encontrar
risos perdidos - rizomas
a força do sangue
e da ancestralidade



janeiro 07, segunda




As águas de janeiro
e seu trágico
         percurso
invadem
    o que seria várzea
e de concreto e asfalto
    se revestiu
Teimosia humana
      cenas recorrentes


janeiro 08, terça





relógio interno
    atrasado
tempo real
   adiantado
(descompasso)


janeiro 09, quarta





Neto doente
    (pediatra
            papinha
     embalo)
Rotina emergencial
Tarefas inadequadas
ao peso dos anos desta
e à leveza dos poucos anos
       daquele. No afeto
a justificativa


janeiro 10, quinta




A cultura se diz
             ativa
patinando em
             obviedades
Os do Gabinete
    fingem-se de
           mortos



janeiro 11, sexta




Shopping

Desfile enfadonho
da mesmice
em série
travestida
de novidade


janeiro 12, sábado

 
 



Chove
o olhar baço do amigo
no vazio
- horizonte
       nublado -
       o sono na
curva final
 (o frio da constatação)
    vinho avinagrado


janeiro 13, domingo
 







Síndrome do PP
atinge o ápice
últimos (prometo a mim mesma)
retoques em estranhas
            formas de vida
- lidar com palavras
     vã e inútil luta
     mal anoitece


janeiro 14, segunda




Afagar
cuidar
acudir
projetar
conversar
tomar café
remexer prateleiras

(acordar espíritos)

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Agenda mínima 2014

Gosto de estabelecer uma certa "agenda mínima" no primeiro dia de cada ano. Uma espécie de disciplina para poder, de alguma forma, canalizar melhor as energias criativas e vitais (que, diga-se, já lá vão diminuindo).
Isso não significa que estabeleça metas à maneira do mundo da economia e dos negócios. Jamais. Também não confundir "agenda mínima" com lista de "desejos" materiais, como "ganhar mais dinheiro" com a única finalidade de comprar mais, mesmo que sejam objetos fetiche. Nada disso (com o passar do tempo cada vez tenho menos desejos materiais e muito menos "necessidades"). Tenho mais do que pedi ou almejei, até porque não pedi nem almejei nada, fui fazendo o caminho ao andar.
Falo de uma agenda mínima no plano das ideias,. Tem sido assim com meus últimos livros, com os blogs. Este À Janela dos Dias, por exemplo, foi aberto em 1º de janeiro de 2009 e desde então se mantém. Hoje não tão ativo quanto naquele primeiro ano quando, rigorosamente, postei diariamente (nem um só dia sem uma linha). Seria a "concorrência" com o Facebook, ativado desde 1º de janeiro de 2012? ou a tal energia vital diminuída?
O fato é que tenho gostado muito de estabelecer certos projetos que nem precisam nascer tão "rigorosos" mas que acabam por materializar-se e cumprir-se se levados com uma certa disciplina.
Contrariando a norma (não escrita mas com validade tácita) de que no Facebook só valem textos breves, acabo de publicar na rede este texto, que diz de um desses itens da "agenda mínima" no último ano. Reproduzo-o aqui, pelo fato de que o blog é menos "volátil", podendo mais facilmente um texto ser localizado mesmo decorrido algum tempo.

"Em forma de balanço e votos

Apesar de transitar pelo mundo virtual há quase duas décadas, percorro suas infovias com uma lentidão, via de regra, não compatível com o meio. Ainda assim, não deixo de avançar. Blogueira desde 2006 (Blog Alpharrabio, agosto 2006, e, posteriormente, meu blog pessoal, À Janela dos dias, em 1º/01/2009). Entretanto, relutei bastante em aderir à rede social. Primeiro, como pessoa física (A Livraria Alpharrabio, sempre o laboratório da experiência). Finalmente, após um ano de observação, há exatamente um ano, ingressei no facebook.
Os que me acompanharam e me deram a honra da interação, perceberam que não entrei aqui para exercer o papel de voyeur. Antes, opinei, critiquei, elogiei, curti, ignorei, postei crônicas e poemas, fiz política (jamais com vinculação partidária, mas no sentido socrático do termo, sempre com vistas ao exercício dialético e da vivência como pólis). Enfim, acredito, "fiquei em rede", o que, pra mim, é o verdadeiro espírito da coisa. Longe de um perfil "fake", o meu reflete o que sou e penso e, é claro, isso tem um preço. Assumi e resolvi pagar (algumas vezes, inclusive, fui "barrada no baile").
Mas o fb tem sido também uma boa experiência literária como a que vivenciei ao postar diariamente, um texto retirado do meu livro "Diuturnos" (Alpharrbio Edições, 2013).
Rica experiência da palavra:  textos escritos  há 13 anos, muitas vezes anotados originalmente à mão, em cadernetas de bolso, a seguir digitados no computador onde repousaram por 12 anos em binária escuridão para, novamente, voltarem para o papel em formato de livro. Do livro e da utopia da página impressa, para a tela do computador, da forma como foram escritos, em doses homeopáticas diárias Escritos em 365 dias no ano 2000, publicados em 365 dias do ano 2013. E como, sabemos, a história anda em ciclos, na pressa deste caminho veloz, muitos dos leitores diversas vezes confundiram o texto (literário) escrito há mais de uma década, como texto escrito "no calor da hora" do dia em curso. Foi divertido e gratificante, ver a palavra saltar por tantos suportes para, enfim, diluir-se neste dia a dia maluco, esquizofrênico e acelerado mundo virtual.

Repetindo a experiência da publicação diária do texto integral do meu livro Diuturnos aqui no FB nos 365 de 2013, passo, a partir de hoje, a título de "agenda mínima", publicar o meu diário (quase íntimo) do ano 2013 que, diferentemente daquele, está manuscrito e inédito. A ideia é de que funcione como uma espécie de "retrospectiva" pessoal do ano passado. Eis aqui o primeiro de janeiro de 2013:
janeiro 01, terça



A desordem externa :
Promessa de ordenação
Interna?
Aqui vivo
Aqui escreverei 2013"

Além desta tarefa da tal da agenda mínima, há muitas outras em intenção, como a de terminar um livro iniciado no primeiro semestre de 2013 e interrompido a seguir por causas alheias à palavra.

Ah... e há também a intenção de não deixar abrir esta janela ao menos uma vez por semana.

Que 2014 nos faça cada vez mais curiosos, criativos e combativos, cidadãos por inteiro. Que a dialética, a alteridade e a tolerância prevaleçam sobre a arrogância do pensar saber tudo. Que a ganância e o ódio de classes seja banido definitivamente do planeta. Que a grandeza do repartir substitua a vileza do acumular. (dtv)