domingo, 9 de março de 2025

 



Março - Mulheres escritoras brasileiras – homenagem

 

7  - Prisca Agustoni

 

Após seis postagens da série “Mulheres Escritoras Brasileiras” singelas homenagens que faço a meus pares neste mês de março, descansei ao sétimo dia, ou seja, exatamente no dia dedicado às lutas das mulheres, dia 8 de março. Foi dia de festa na Alpharrabio Livraria, editora e centro cultural, fundada há 33 anos e a celebração se fez urgente.

 

Ainda de ressaca afetiva, retorno às mulheres, nesta 7ª. postagem e trago a vocês a potente voz de Prisca Agustoni, uma poeta brasileira que nasceu na Suíça (sim, as cores e o ritmo de sua poética é totalmente brasileira), de quem sou leitora há 24 anos. Professora e pesquisadora acadêmica na UFJF, MG, escreve e se autotraduz em italiano, francês e português e “faz desse lugar entre línguas seu motor de criação e de pesquisa acadêmica”.

 

A natureza tropical escreve sua história com verbos e

adjetivos excessivos, assim como os frutos dobram os

galhos carregados ¬ e já implodem invisíveis por dentro

 

quero aliviar sua narrativa, subtrair peso e cor à exuberân-

cia do destino ¬ essa missiva sem destinatário certo

             mas minhas palavras são como mangas que caem

da árvore, e ouço o estrondo surdo do fruto no chão – eu

as vejo ali, abertas, manchando a grama, a linguagem, o

pensamento

                              palavras-manga

 

elas sabem a verão, a calor, a chuva, a sol total que

explode na boa

                               a putrefação.

 

Meu texto nasce quente e maduro e escancara sua

vontade de domínio sobre a vegetação.

 

Este poema, sem título, integra seu mais recente livro “Quimera”, Círculo de Poemas, 2025 e eu arriscaria dizer que se trata de um poema de cores e sabores “tropicais” que só poderia ter sido escrito por um olhar estrangeiro/nativo, um poema que “sabe a verão” e tem cheiro de fruta. Só alguém que viu de longe e provou de perto pode se expressar dessa forma “tropicalista” de sentir.

 

Inventario os volumes de poesia de Prisca no meu acervo, por ordem cronológica:

 

- Inventario di você – edição bilíngue italiano/português – Mazza Edições, 2001, SP

- Sorelle di fieno – edição italiano/português, Mazza edições, 2002, SP

- diás y otros poemas emigrantes, edição em espanhol, Mazza edições, BH, MG, 2004

- Casa dos Ossos – Edições Macondo, JF, MG, 2017

- Animal extremo, Patuá, SP, 2017

- O mundo mutilado, Editora Quelônio, SP, 2020

- Rastros, Círculo de Poemas, 2022

- Quimera, Círculo de Poemas, 2025

 

E mais não digo a não ser que, leiam Prisca Agustoni e sintam sua voz poliglota no mais legítimo português. Procurem ler literatura feita por mulheres e experimentem a capacidade do maravilhamento, susto e do fato estético surpreendente desse bonito coral polifônico! dtv


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