Março - Mulheres escritoras brasileiras, homenagem
2. Maria Valéria Rezende
Como já escrevi algumas vezes sobre a obra de Maria Valéria (textos que podem ser encontrados através do Google), sigo o “protocolo” desta série em homenagem às mulheres escritoras brasileira, fazendo o quase impossível neste caso, ou seja, tentar o distanciamento e isenção necessários para falar de sua obra grandiosa sem mencionar o extraordinário ser humano. De quebra, alguma imperdoável autorreferência, sendo que acompanho de perto sua fulgurante trajetória literária desde 2012, ano em que nos conhecemos pessoalmente.
Como MV não precisa destas singelas anotações, arrisco e, digo sem medo de errar (o tempo deverá me dar razão) que falamos aqui de uma obra que ficará orbitando na centralidade dos clássicos da literatura brasileira.
Assim, não será necessário falar aqui de sua vasta biobliografia, porque esses dados são públicos e de fácil acesso. Estas breves pinceladas, muito aquém do compêndio que ela mereceria, são elencadas para fazê-la integrar minha modesta homenagem às mulheres escritoras brasileiras da atualidade.
Escritora tardia, às vésperas de completar 60 anos e após uma intensa história de vida como educadora popular, missionária da Congregação de Nossa Senhora, Cônegas de Santo Agostinho, ao redor de vários países, percorrendo igualmente o Brasil de ponta a ponta; em 2001, publica a primeira versão do livro “Vasto Mundo” (Ed. Beca), posteriormente reeditado, inclusive traduzido e publicado na França.
Com a publicação do romance “Quarenta Dias” (Ed. Alfaguara, 2014) e “Outros Cantos” (Ed. Alfaguara, 2016) inscreve-se na centralidade da literatura brasileira, sendo agraciada com Jabutis, Prêmios São Paulo, Casas de las Américas e tantos outros. Foi igualmente premiada por vários de seus livros na categoria infantil e juvenil. Em sua obra, encontram-se mais de 10 títulos, alguns deles, premiados nessa categoria, como livros de contos e haicais.
Em 2019, publica o romance “Carta à Rainha Louca”, no qual emprega toda a sua cultura, criatividade e destreza narrativa. Fruto de uma pesquisa histórica exaustiva, utiliza o vocabulário oitocentista (a história passa-se em Olinda, PE, em 1789) e cria, com absoluto domínio de linguagem, a história de duas mulheres (Isabel e sua senhora Blandina) vivida naquele século. Trata-se de um romance ímpar na nossa literatura, cuja abordagem explicitamente feminista combativa, denuncia toda espécie de tormentos vividos por Isabel das Santas Virgens, presa no convento de Recolhimento da Conceição que passa a escrever cartas à rainha Maria I, conhecida como a Rainha Louca. Ali, a personagem relata, analisa e denuncia as crueldades e modos de vida despóticas dos homens da Coroa no Brasil, contra mulheres e escravizados.
A propósito, o espetáculo “Isabel das Santas Virgens e sua carta à rainha louca”, monólogo protagonizado por Isabel Barroso adaptado do romance, após temporadas de sucesso no Rio e São Paulo, terá nova temporada no Terraço Itália, Centro de São Paulo, de 13 de Março a 24 de Abril de 2025 (às quintas-feiras).
Nenhum comentário:
Postar um comentário