Março
- Mulheres escritoras brasileiras – homenagem - 6. Marília Garcia
A
primeira vez que li a poesia de Marília Garcia estava este século em início. A “Coleção
Ás de Colete”, publicada pela CosacNaify / 7Letras, era a grande novidade na
poesia de jovens poetas brasileiros. Acompanhei com grande interesse todos os volumes
(alguns deles de poetas nascentes do ABC paulista, lançados antes pela
Alpharrabio Edições). “10 poemas para o seu walkman”, naquele adorável formato
de bolso, vinha assinado por uma menina da mesma idade que a minha filha caçula
que, diga-se, não se dedica a escrever poesia, mas ficou aí estabelecido o
marco geracional. O título provocativo continuou a instigar a curiosidade e a
leitura. Não foi difícil perceber que ali havia uma voz singular que falava do
que via, lia, vivia, num ritmo singular, conteúdo e forma a marcar posição de
quem vinha para ficar. Ficou e continuou a publicar.
10
anos depois, em 2017, não fiquei nada surpresa com o Prêmio Oceanos ser
concedido ao seu “Câmera lenta” (Companhia das Letras”). Antes disso, eu já
havia percorrido as livrarias de minha cidade à procura de exemplares desse
precioso volume para presentear amigos. Àquela altura sua poética já era
perfeitamente identificável pela elegância, sofisticação e modo de dizer.
Quase
duas décadas depois e muitos outros volumes lidos (“Paris não tem centro” -
escrito in loco, 7Letras; “um teste de resistores”, 7Letras, até o mais recente
“Expedição: nebulosa”, Cia. das Letras, a poesia de Marília galgou o espaço
mais nobre das estantes de poesia da minha bibliocasa.
Considero
a tarefa de traduzir também uma forma de criar, tornou-se impossível não notar o
rigoroso trabalho de Marília em verter escritores estrangeiros para a nossa
língua. A destacar, a tradução de quase todos os títulos da Prêmio Nobel Annie
Ernaux publicados no Brasil pela Editora Fósforo (dos 8 volumes que li, apenas
um deles não é traduzido por Marília). Posso dizer que li Annie e amei Annie,
conduzida de forma segura pela letra de Marília.
Leiam
Marília Garcia, leiam a literatura de autoria de mulheres, não apenas pelo fato
de serem mulheres, mas pelo leque diverso e de qualidade que essa literatura vem
nos oferecendo.
dtv
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