Postei este texto no facebook, mas como a rede social é
mais, digamos assim, volátil que este meio, ou seja, o blog, que armazena
textos e é localizável, republico-o aqui com alguns acréscimos:
foto Manuel Filho |
“Foi assim: era uma vez um menino nascido em SP que veio para São Bernardo do Campo ainda pequeno. Ali, numa biblioteca com nome de escritor, Monteiro Lobato, descobriu a possibilidade de outros mundos para além do seu. Os bibliotecários de então, gente que percebe as ânsias dos frequentadores, fecharam os olhos para os livros “proibidos” que o menino escolhia par ler e o deixaram viajar à vontade. Esse menino, já crescidinho, foi conhecer “in loco” outros mundos, reais, sem abandonar aqueles dos livros. Acabou estudando na Sorbonne, virou mestre e doutor nessa prestigiada Academia, em Paris. Valendo-se dos mundos armazenados na infância que foram se acumulando ao longo da vida, passou a criar pontes para que os criadores desses mundos pudessem transitar e, sobretudo, e encontrar. Neste julho, ele novamente atravessa o Atlântico, e, no caminho, vai ligando palavras e seres, fazendo-os cruzar as tais pontes. Desta vez, com parada obrigatória na cidade de sua infância, mais precisamente, na Biblioteca de sua infância. Convida algumas dessas vozes criadoras de mundos e os reúne exatamente lá, no local onde descobriu as primeiras. Mais uma vez, os bibliotecários e toda a gente que lá havia foi condescendente e topou a parada com muita garra e contentamento. A casa encheu de gente para ver/ouvir cinco escritores (Carola Saavedra, Lúcia Hiratsuka, Marcelino Freire, Marcelo Maluf e esta que vos escreve) por ele convocados e foi muito, mas muito gratificante estar lá no papel dessas vozes convidadas a falar sobre o tema proposto “Estranhos Estrangeiros”. Li, falei, mas, sobretudo, aprendi com escritores de outras gerações que não a minha, mas por quem muito me interesso. A idealização, a coordenação e a mediação de Leonardo Tonus, o menino descobridor de mundos, foi fundamental para que o encontro fosse transformado em epifania. O registro é de outro habitante do lugar, desde aquela mesma época, o agora escritor reconhecido, Manuel Filho. Bem hajam todos!”
Aquelas/aqueles que ali estavam passaram por deslocamentos
territoriais, mas não só, transfiguraram esses estranhamentos em poesia,
romance, conto, ilustração. Em comum, o sentimento constante de “estrangeiro”,
o bárbaro que não fala a mesma língua e, como disse Marcelino, não cumpriu “o
sonho dos pais em estudar administração de empresas ou coisa que o valha”. A/o
estranha/o que espia o invisível aos demais e quando o diz já é outra coisa,
ainda que a mesma. A memória é sempre um mistério e é também enganosa, posto
que construída e recriada por quem se recorda. Depois de transfigurada e
escrita, torna-se coletiva e pertence a quem dela quiser servir-se. Tenho
refletido muito sobre isso, sobretudo após vários leitores críticos apontarem
essas questões (do rizoma e da memória) em minha produção poética. O encontro
da noite de sexta-feira 07.07.17 me instigou e pensar melhor sobre isso e,
sempre que possível, transformar o lembrado pela língua da poesia. dtv
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