Nesta
nona postagem da série que recolhe leituras e apreciações críticas sobre meu livro
“solidões da memória”, registro duas resenhas assinadas por Valéria
Mendez, jornalista, crítica musical e professora, residente no Funchal, publicadas
em seu mural do Facebook nos dias 26 e 29.1.2016.
Além
dos comentários críticos sobre “solidões da memória”, o segundo texto trata de
um outro livro publicado anteriormente, “estranhas formas de vida”.
"É
necessário sair da ilha para ver a ilha, não nos vemos se não saímos de
nós"
José Saramago
José Saramago
"Solidões
Da Memória" (DobraLiteratura/Alpharrabio) é o ultimo livro de DALILA TELES
VERAS. Um parto literário só possível a quem já sublimou as suas "solidões
da memória", e que na linguagem do poema, consegue exorcizar as memórias gravadas
a ferro e fogo na alma. A poetisa vive a ilha por dentro, observa-a de fora, e
os meandros da saudade confessam-lhe segredos, que traduz a profundeza de quem
possui a alquimia da palavra.
A palavra, em Dalila Teles Veras, não reflecte a saudade e a memória do óbvio, mas um retrato de quem descobriu o algorítmo da alma, vendo-se ao espelho, e contando-nos em poema, o que a alma vê reflectida no brilho das memórias. E apenas em solidão se obtém a resposta.
Dalila Teles Vera despe-se, qual alma em refracção, e revela-nos verdade. Nua e crua. Doce e amarga. Ou deveria dizer real?
"Solidões Da Memória"(2015) está dividido em quatro capítulos essenciais, donde a insularidade e o regresso, ou tentativa de, assumem policronias por vezes carregadas do elemento tempo, revisitação de espaços, cruzamento de sentimentos que percorrem o arco-íris do coração. A poetisa recusa cantar a ilha. É a ilha que canta n'ela, e o canto nem sempre é azul. Às vezes está carregado de cinzento.
Cada poema é acompanhado de uma citação. E nessa citação revê-se o poema, e o poema espelha-se na citação. De Sophia, Pessoa, mas também de novas fontes literárias, Valter Hugo Mãe, Viale Moutinho... Dalila Teles Veras não escreveu os poemas deste livro. Arrancou-os. Sem anestesias baratas. As tais anestesias tão comuns no nosso tempo e tão aclamadas pelo neo-liberalismo vigente.
A poetisa da Ilha no Brasil, já chegou ao tempo da sabedoria. Ela sabe o que é a memória.
No final do livro cita o grande Manuel António Pina: "o passado no passado, o presente no presente, assim chega o viajante à tardia idade em que se confundem ele e o caminho." A lucidez tem um preço. O da solidão da memória.
A palavra, em Dalila Teles Veras, não reflecte a saudade e a memória do óbvio, mas um retrato de quem descobriu o algorítmo da alma, vendo-se ao espelho, e contando-nos em poema, o que a alma vê reflectida no brilho das memórias. E apenas em solidão se obtém a resposta.
Dalila Teles Vera despe-se, qual alma em refracção, e revela-nos verdade. Nua e crua. Doce e amarga. Ou deveria dizer real?
"Solidões Da Memória"(2015) está dividido em quatro capítulos essenciais, donde a insularidade e o regresso, ou tentativa de, assumem policronias por vezes carregadas do elemento tempo, revisitação de espaços, cruzamento de sentimentos que percorrem o arco-íris do coração. A poetisa recusa cantar a ilha. É a ilha que canta n'ela, e o canto nem sempre é azul. Às vezes está carregado de cinzento.
Cada poema é acompanhado de uma citação. E nessa citação revê-se o poema, e o poema espelha-se na citação. De Sophia, Pessoa, mas também de novas fontes literárias, Valter Hugo Mãe, Viale Moutinho... Dalila Teles Veras não escreveu os poemas deste livro. Arrancou-os. Sem anestesias baratas. As tais anestesias tão comuns no nosso tempo e tão aclamadas pelo neo-liberalismo vigente.
A poetisa da Ilha no Brasil, já chegou ao tempo da sabedoria. Ela sabe o que é a memória.
No final do livro cita o grande Manuel António Pina: "o passado no passado, o presente no presente, assim chega o viajante à tardia idade em que se confundem ele e o caminho." A lucidez tem um preço. O da solidão da memória.
VM, Funchal
Um
Conceito Inédito Em Livro
-
A escritora e poetisa madeirense, radicada no Brasil, Dalila Teles Veras,
apresentou em 2013, no seu livro "Estranhas Formas De Vida", um
invulgar conceito. O de fazer provocar a ela própria, motivações e inspiração
para a escrita dos seus poemas inéditos. A procura de inspiração, surge-lhe na
forma de fados e canções portuguesas que ficaram no seu ouvido e abraçaram a
sua alma.
Dalila Teles Veras é um caso sério de talento literário, e consegue a proeza de fazer jus à expressão da visceral e insubstituível Natália Correia, "A poesia é para comer".
Os olhos analíticos do apreciador de Pintura estabelece caminhos pessoais e intransmissíveis da sua visão de um quadro de Picasso, e Dalila Teles Veras, extrái dos fados e canções que escutou, paralelos sensitivos pessoais, traduzidos nos seus poemas, muitos dos quais intervenientes do ponto de vista político e sociológico. A Poesia, em Dalila Teles Veras é um ponto de partida para algo mais abrangente: a leitura filosófica da realidade.
Dalila Teles Veras é um caso sério de talento literário, e consegue a proeza de fazer jus à expressão da visceral e insubstituível Natália Correia, "A poesia é para comer".
Os olhos analíticos do apreciador de Pintura estabelece caminhos pessoais e intransmissíveis da sua visão de um quadro de Picasso, e Dalila Teles Veras, extrái dos fados e canções que escutou, paralelos sensitivos pessoais, traduzidos nos seus poemas, muitos dos quais intervenientes do ponto de vista político e sociológico. A Poesia, em Dalila Teles Veras é um ponto de partida para algo mais abrangente: a leitura filosófica da realidade.
"Não
faz muito tempo, em reunião com amigos, ouvíamos Amália Rodrigues a interpretar
'Estranha Forma De Vida' ('Que estranha forma de vida/tem este meu coração/vive
de vida perdida/quem lhe daria o condão/que estranha forma de vida?), quando o
poeta Tarso de Melo me perguntou, 'porque você não escreve sobre isso?'
Escrever sobre isso...Sim, mas o que seria exatamente 'isso'? Fui fisgada.
(...) "
Dalila Teles Veras, in Estranhas Formas De Vida(página 55)
Dalila Teles Veras, in Estranhas Formas De Vida(página 55)
A
correspondência biunívoca entre canções e laboratório poético de Dalila Teles
Veras, passa por Amália Rodrigues, Mísia, José Afonso ou Jorge Fernando. Passa
pelos textos de Amália, Saramago, Vasco Graça Moura, mas também pelos textos de
Alberto Janes, Jorge Fernando e Norberto de Araújo. Uma pléiade de cordões
umbilicais que ligam a escritora e poetisa à Pátria-Mãe, ao sentimento mais
primordial.
..."Minha mãe, ainda que desafinada, gostava de cantar, em especial quando costurava roupas à máquina, alguns fados consagrados por Amália Rodrigues...Para a menina que via o mar de sua janela e todas as manhãs sonhava com possíveis mundos para além daquele exíguo horizonte líquido, o que menos interessava eram essas letras que falavam de sentimentos que ainda não compreendia. Hoje, entretanto, me pergunto se um desses sentimentos que bem mais tarde vim a descobrir no seu mais amplo sentido, o da saudade, não teria vindo comigo.
Ancestralidade (fado?) da qual ninguém escapa..."
Dalila Teles Veras, in Estranhas Formas De Vida (página 54)
..."Minha mãe, ainda que desafinada, gostava de cantar, em especial quando costurava roupas à máquina, alguns fados consagrados por Amália Rodrigues...Para a menina que via o mar de sua janela e todas as manhãs sonhava com possíveis mundos para além daquele exíguo horizonte líquido, o que menos interessava eram essas letras que falavam de sentimentos que ainda não compreendia. Hoje, entretanto, me pergunto se um desses sentimentos que bem mais tarde vim a descobrir no seu mais amplo sentido, o da saudade, não teria vindo comigo.
Ancestralidade (fado?) da qual ninguém escapa..."
Dalila Teles Veras, in Estranhas Formas De Vida (página 54)
Obrigada,
Cara Operária das Letras! O seu "Estranhas Formas De Vida",
acompanhar-me-á doravante nos percursos do meu espírito.
Apreciação
Da Obra: *****
Indispensável, sobretudo para os madeirenses.
Indispensável, sobretudo para os madeirenses.
VM
Funchal
Funchal
Nenhum comentário:
Postar um comentário