Por estes dias, pousou em minha escrivaninha um pacote postado
no Porto, algum tempo antes (a travessia atlântica, no que se refere a pacote
enviado através dos correios, parece ter, por vezes, voltado ao ritmo das
caravelas) por José Viale Moutinho, ilustre escritor meu conterrâneo e, o que é
melhor, meu amigo.
Nada menos do que 5 livros saíram dali e vieram enriquecer a
minha prateleira vialemoutiniana (“o diabo coxo – ocasionário fabuloso”, “Contos
Populares das Ilhas da Madeira e do Porto Santo”; “Portugal Lendário – tesouro da
tradição popular” uma obra monumental publicada pelo Círculo de Leitores, com
524 pgs.; “Entre Povo e Principais”, uma
novela, em 2ª. edição, com Prefácio de Agustina Bessa-Luís, que diz : “Viale
Moutinho é um dos últimos românticos do bem-dizer (....) Faz bem aos nervos
lê-lo; faz bem à alma viver com os seus homens duros, os generais cravejados de
medalhas, os caçadores atrás das lebres (...)”; o quinto e, para mim, mais
importante (e já digo porquê) “Um jantar de escritores – seleção de textos e
notas epicuristas”.
À alegria indescritível de sempre, a de abrir pacotes,
saboreando de antemão o prazer estético de fruir seus conteúdos, juntou-se o
sentimento de surpresa que reafirma a crença naquilo que Jung chamou de
sincronicidade, ou seja, acontecimentos que se relacionam por seus próprios
significados e não meramente pela causalidade.
É que no exato momento da chegada do pacote, estava eu dedicada
à pesquisa sobre o papel da gastronomia na literatura, ou melhor, como é que a
comida é “tratada” na ficção e na poesia de alguns escritores (naquele momento
debruçava-me sobre Eça de Queiroz, o exemplo mais evidente na minha memória
literária e valia-me do exaustivo trabalho de Dário Moreira de Castro Alves em “Era
Tormes e Amanhecia – Dicionário gastronômico cultural de Eça de Queirós”).
Preparava-me, com isso, para atender a um convite que recebi para integrar uma
mesa de diálogo no Congresso Metodista, sob o tema “Comida, Educação e Arte”, da Universidade Metodista de São Paulo – UMESP, no próximo dia 11. É evidente
que ao me deparar com este “Um jantar de escritores – seleção de textos e notas
epicuristas” estabeleceu-se de imediato a tal sincronicidade e, de quebra, muito
contribuiu com minha pesquisa que, diga-se, não era do conhecimento de seu
autor.
Neste, literalmente, saboroso livrinho, além do inevitável
Eça, entra também o Camilo, sobre quem Viale Moutinho já publicou “Camilo e o
Garfo” e uma farta mesa de banquetes da boa literatura portuguesa, passando pela
poesia de Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almeida Garrett, Bocage,
António Nobre e Cesário Verde, bem como por romances e crônicas de Bulhão Pato,
Júlio Dinis, Ramalho Ortigão, e tantos
outros.
E viva a sincronicidade do espírito! Bem haja o Zé Viale,
prolífico e original escritor, com sua generosidade transatlântica.
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