sábado, 3 de agosto de 2013

Jornal de viagem - II

São Petersburgo

As calhas colhem lágrima do teto,
no braço do rio riscam um grafito;
nos lábios bambos do céu inquieto
cravam-se mamilos de granito

O céu - agora calmo - ficou claro:
lá, onde prateia o prato do mar, o
úmido condutor, a passo lento, leva
o camelo de duas corcovas do rio Neva.

                                     V. Maiakóvski



Pedro, O Grande, não estava para brincadeira naquele já longínquo ano de 1703, quando decidiu que ali, às margens do Rio Neva, se construiria uma das mais belas cidades "europeias".


Pensou, riscou, projetou e concluiu, dotando a "moderna" cidade de largas avenidas e com tudo o que o dinheiro e o bom gosto de um Czar poderia comprar e... claro, demonstrar poder, muito poder. Por fim, deu à cidade o seu próprio nome e dela fez a Capital do Império.



Mais tarde, a doidivana Catarina II que, dizem,  mandou matar o marido, o doente e infeliz Pedro III, para assumir o trono e tornar-se Catarina A Grande, Imperatriz da Rússia, deu uma "incrementada" na cidade. Durante todo o seu longo reinado (mais de 30 anos) foi comprando o que pôde de obras de arte do mundo todo e, para abriga-las, mandou construir um anexo ao seu Palácio de Inverno 



A ânsia colecionista real (colecionava amantes e obras de arte com o mesmo ímpeto e voracidade) resultou no Hermitage, um dos maiores e mais prestigiados Museus de arte do mundo (perde apenas em tamanho e número de obras, para o Louvre).




A história desse fabuloso prédio debruçado sobre o Rio Neva é a própria história da Rússia. Intrigas, desventuras e venturas amorosas, militares conspiradores, assassinatos, guerras e festas, muitas festas percorreram e preencheram seus fabulosos salões e galerias. 


Percorrer suas luxuosas e deslumbrantes dependências é também percorrer a história da humanidade, contada através de um impressionante acervo pictórico e escultural que vai de Leonardo Da Vince e desemboca na atualidade, sem contar as raridades arqueológicas egípcias e outros tesouros.

Hermitage e um rio ao meio

São Petersburgo (ex-Petrogrado, ex-Leningrado) é também, por vocação e fatalismo histórico, além de importante centro cultural, uma "cidade literária".  Cantada em verso e prosa, ambientou romances de Dostoiévski, contos e peças de Gógol, poemas de Maiakóviski, Anna Akhmátova, Pushkin, Mandelstam e tantos outros gigantes. A nata da intelectualidade russa passava por seus famosos "cafés literários".

A Catedral N.S.de Cazá vista do Café situado no 1º and. da bela Livraria Singer

E os mais "desesperados" matavam-se, como o fez o jovem Iessiênin, em 1925, num quarto deste Hotel


O palco do Teatro Mariinski desde 1783, abriga/abrigou desde o mítico Ballet Kirov a estreias igualmente míticas, como peças de Tchaikovsky e muitos outros.



23h e uma "noite branca" à saída do espetáculo/ópera do Balé Kirov
"Spartacus" (à esquerda o velho Teatro à direita o novíssimo Teatro.
Aqui o novo jamais mata o anterior, mas junta-se a ele.

Estar aqui, percorrer suas ruas, olhar a cidade e seus palácios de dentro do rio, é mergulhar em velhos alfarrábios e penetrar num mundo imaginado, agora absurdamente real, palpável, percorrível.





   "Fiquei ali - eu me lembro
     Havia aquele  brilho.
     E aquilo
     então
     se chama Neva" Maiakóvski


 

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