segunda-feira, 14 de abril de 2025

Mulheres escritoras brasileiras – homenagem (de março, abril, do ano inteiro) 18 – Nic Cardeal e Henriette Effenberger

 


Mulheres escritoras brasileiras – homenagem (de março, abril, do ano inteiro)

18 – Nic Cardeal e Henriette Effenberger

 Minha intenção em homenagear mulheres escritoras durante todo o mês de março, não foi inteiramente cumprida. Esta é a 18ª postagem e já estamos em abril. Ainda assim, decidi prosseguir, pois não quero que os livros que retirei das prateleiras voltem para lá, sem que suas autoras sejam, ao menos, citadas aqui.

Estive a pensar nas mulheres que o Movimento Feminista Mulherio da Letras me apresentou, durante os oito anos de sua existência.

Nesta série que inaugurei no início de março, foram homenageadas algumas escritoras ligadas a esse Movimento ainda que, algumas delas, já as tenha conhecido (e lido) bem antes, como é o caso da Maria Valéria Rezende e Rosângela Vieira Rocha. Giovana Damaceno, tema de um dos últimos posts, foi um presente que recebi do Mulherio, do qual é atuante membro, desde seu início, assim como outras que ainda ocuparão este espaço.

Isto posto, dou início à segunda parte da série, um capítulo para comentar, mesmo que na forma breve, a obra dessas escritoras atuantes no coletivo Movimento Mulherio das Letras e que, sem ele, muito provavelmente, não as teria conhecido e nem à sua literatura. O Brasil é um mundo e para conhecer um mundo e as 7,6 mil mulheres que aderiram ao Mulherio, através da página do Facebook, seria preciso uma nova vida.

Assim como procedi até o momento, só falarei de obras lidas por mim e que habitam as estantes da minha bibliocasa.

Nesta 18ª postagem, destaco duas escritoras que chegaram até mim, através do Mulherio das Letras, Nic Cardeal e Henriette Effenberger. Além das qualidades literárias de seus livros, ambas possuem espírito agregador e solidário com seus pares, características que deveriam nortear, acredito eu, todas as integrantes do Mulherio e fora dele.

NIC CARDEAL

Eunice Maria Cardeal ou Nic Cardeal que é como que assina seus livros, nasceu em Santa Catarina e atualmente vive em Curitiba. Publicou, o livro “sede de céu”, de poemas, 2019, “Costurando ventanias – uns contos e outras crônicas”, 2021, ambos pela Editora Penalux, SP. Sua obra, entretanto, está espalhada em algumas dezenas de antologias e coletâneas, revistas e blogs, como a revista eletrônicas SerMulherArte onde publica resenhas e entrevistas de/com mulheres de todo o Brasil e, eventualmente, do exterior.

Lírica incurável e inventora de sedutoras metáforas, Nic emprega tamanha suavidade a tudo que escreve que, leitora, fico a imaginar que só pode escrever assim, quem leva a vida ou encara a vida da mesma maneira. Não, a poeta não se limita a falar apenas de “levezas”, não é dessa matéria que é construída sua obra (quer na poesia ou na prosa, que, diga-se, é poesia também), é do seu caráter humano ou daquilo que deveria ser composto esse caráter humano. O mérito de sua poesia é também da forma como diz, não apenas do que diz.

Seus poemas são longos, na sua grande maioria, o que não lhes tira o mérito. Entretanto, deixo aqui uma amostragem dos poemas curtos, que muito me agradam e que é onde, no meu modo de ver, a poeta revela um extraordinário poder de concisão, dizendo muito com o pouco dizer.

O grito

Tenho silêncios

incrustados na garganta:

eu grito

por escrito.

Saudade

A presença dorme na distância.

E sonha.

Silêncios

Sou emudecida

no gesto equilibrista

quase malabarista

de palavras nunca ditas.

 

HENRIETTE EFFENBERGER

Nasceu e reside em Bragança Paulista, SP. É romancista, contista, memorialista, poeta e escreve também literatura para a infância, tendo publicado livros em todos esses gêneros, desde 2002.

Na minha estante de literatura brasileira feita por mulheres, constam os livros de Henriette: Linhas Tortas, 2008 (contos premiados em concursos literários), com apresentação de Inácio de Loyola Brandão); Fissuras, contos, 2018, Editora Penalux, SP, com prefácio de Rosângela Vieira Rocha (escritora já homenageada nesta série) e Quase Nada de Azul sobre os Olhos, romance Telecazu Edições, 2021.

Dona de uma prosa fluente, narradora habilidosa e íntima conhecedora da língua, Henriette conduz o leitor sempre à surpresa final de seus contos, verdadeiras joias do gênero.

Tenho por hábito, sublinhar e escrever à margem do que li, algumas impressões. Vejo que em Fissuras, há alguns comentários, como no conto “Arre, Capeta”, escrevi a lápis a observação: “muito bom!”, assim como em “Redenção” outro conto que classifiquei de “bom!”, em “Horas cinzentas” grifei a frase “A velhice, aos poucos, vai incorporando a morte. Amarela os papéis, mais do que a nicotina mancha os dentes e os dedos nodosos (...)”. Na margem, escrevi, também muito de leve e a lápis, “maravilhoso!”. No conto “Navegar é preciso”, anotei ao final: “um poema!”. Reli-o agora, em voz alta, e confirmo a primeira impressão: um poema!

Leiam Nic Cardeal, leiam Henriette Effenberger, leiam as escritoras brasileiras vivas, divulguem e orgulhem-se delas, bem como do fato de vivermos num mesmo tempo, sermos contemporâneas umas das outras, cúmplices na palavra.

dtv

 


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