Mulheres
escritoras brasileiras – homenagem (de março, abril, do ano inteiro)
18
– Nic Cardeal e Henriette Effenberger
Estive
a pensar nas mulheres que o Movimento Feminista Mulherio da Letras me
apresentou, durante os oito anos de sua existência.
Nesta
série que inaugurei no início de março, foram homenageadas algumas escritoras
ligadas a esse Movimento ainda que, algumas delas, já as tenha conhecido (e
lido) bem antes, como é o caso da Maria Valéria Rezende e Rosângela Vieira
Rocha. Giovana Damaceno, tema de um dos últimos posts, foi um presente que
recebi do Mulherio, do qual é atuante membro, desde seu início, assim como
outras que ainda ocuparão este espaço.
Isto
posto, dou início à segunda parte da série, um capítulo para comentar, mesmo
que na forma breve, a obra dessas escritoras atuantes no coletivo Movimento
Mulherio das Letras e que, sem ele, muito provavelmente, não as teria conhecido
e nem à sua literatura. O Brasil é um mundo e para conhecer um mundo e as 7,6
mil mulheres que aderiram ao Mulherio, através da página do Facebook, seria
preciso uma nova vida.
Assim
como procedi até o momento, só falarei de obras lidas por mim e que habitam as
estantes da minha bibliocasa.
Nesta
18ª postagem, destaco duas escritoras que chegaram até mim, através do Mulherio
das Letras, Nic Cardeal e Henriette Effenberger. Além das qualidades literárias
de seus livros, ambas possuem espírito agregador e solidário com seus pares,
características que deveriam nortear, acredito eu, todas as integrantes do
Mulherio e fora dele.
NIC
CARDEAL
Eunice
Maria Cardeal ou Nic Cardeal que é como que assina seus livros, nasceu em Santa
Catarina e atualmente vive em Curitiba. Publicou, o livro “sede de céu”, de
poemas, 2019, “Costurando ventanias – uns contos e outras crônicas”, 2021,
ambos pela Editora Penalux, SP. Sua obra, entretanto, está espalhada em algumas
dezenas de antologias e coletâneas, revistas e blogs, como a revista
eletrônicas SerMulherArte onde publica resenhas e entrevistas de/com mulheres
de todo o Brasil e, eventualmente, do exterior.
Lírica
incurável e inventora de sedutoras metáforas, Nic emprega tamanha suavidade a
tudo que escreve que, leitora, fico a imaginar que só pode escrever assim, quem
leva a vida ou encara a vida da mesma maneira. Não, a poeta não se limita a
falar apenas de “levezas”, não é dessa matéria que é construída sua obra (quer
na poesia ou na prosa, que, diga-se, é poesia também), é do seu caráter humano
ou daquilo que deveria ser composto esse caráter humano. O mérito de sua poesia
é também da forma como diz, não apenas do que diz.
Seus
poemas são longos, na sua grande maioria, o que não lhes tira o mérito.
Entretanto, deixo aqui uma amostragem dos poemas curtos, que muito me agradam e
que é onde, no meu modo de ver, a poeta revela um extraordinário poder de
concisão, dizendo muito com o pouco dizer.
O
grito
Tenho
silêncios
incrustados
na garganta:
eu
grito
por
escrito.
Saudade
A
presença dorme na distância.
E
sonha.
Silêncios
Sou
emudecida
no
gesto equilibrista
quase
malabarista
de
palavras nunca ditas.
HENRIETTE
EFFENBERGER
Nasceu
e reside em Bragança Paulista, SP. É romancista, contista, memorialista, poeta
e escreve também literatura para a infância, tendo publicado livros em todos
esses gêneros, desde 2002.
Na
minha estante de literatura brasileira feita por mulheres, constam os livros de
Henriette: Linhas Tortas, 2008 (contos premiados em concursos literários), com
apresentação de Inácio de Loyola Brandão); Fissuras, contos, 2018, Editora
Penalux, SP, com prefácio de Rosângela Vieira Rocha (escritora já homenageada
nesta série) e Quase Nada de Azul sobre os Olhos, romance Telecazu Edições,
2021.
Dona
de uma prosa fluente, narradora habilidosa e íntima conhecedora da língua,
Henriette conduz o leitor sempre à surpresa final de seus contos, verdadeiras
joias do gênero.
Tenho
por hábito, sublinhar e escrever à margem do que li, algumas impressões. Vejo
que em Fissuras, há alguns comentários, como no conto “Arre, Capeta”, escrevi a
lápis a observação: “muito bom!”, assim como em “Redenção” outro conto que
classifiquei de “bom!”, em “Horas cinzentas” grifei a frase “A velhice, aos
poucos, vai incorporando a morte. Amarela os papéis, mais do que a nicotina
mancha os dentes e os dedos nodosos (...)”. Na margem, escrevi, também muito de
leve e a lápis, “maravilhoso!”. No conto “Navegar é preciso”, anotei ao final:
“um poema!”. Reli-o agora, em voz alta, e confirmo a primeira impressão: um
poema!
Leiam
Nic Cardeal, leiam Henriette Effenberger, leiam as escritoras brasileiras
vivas, divulguem e orgulhem-se delas, bem como do fato de vivermos num mesmo
tempo, sermos contemporâneas umas das outras, cúmplices na palavra.
dtv
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