sábado, 21 de outubro de 2017

Marcus Accioly, uma nênia

Quando morre um poeta - e hoje morreu um - vou à estante, retiro tudo o que dele encontro e ponho-me a ler... ler. É a maneira que encontrei para velar o corpo de sua obra, um corpo que bem conheço. Assim, também velo seu corpo, que desconheço, mas homenageio e respeito.


Morreu hoje, aos 74 anos o poeta Marcus Accioly, nascido em Pernambuco, equivocadamente tido por alguns como “poeta regionalista”. Não foi/não é. Foi/é um poeta Brasileiro/universal, imenso, épico, órfico, exuberante.  A ele rendo minhas homenagens.

O poema abaixo, pertence ao livro “Sísifo”, Edições Quíron/MEC, 1976

Canto Terceiro
O IMPOSSÍVEL DA ALEGORIA
      II
pedranimal
       e pássaro-poeta

há um puma na montanha e há uma pedra
(além de Sísifo) há uma pedra e um puma
há a montanha uma pedra um puma e Sísifo

os perigos de Sísifo: a montanha
uma pedra e um puma (a pedra sobe
e o puma desce sobre a pedra e Sísifo

há uma pedra entre o puma e Sísifo
há uma luta entre o puma e Sísifo
há uma pedra e um puma para Sísifo

há um puma sozinho na montanha
há uma pedra subindo na montanha
há Sísifo somente na montanha

há um puma e o puma é a própria morte
há uma pedra e a pedra é um poema
há Sísifo e Sísifo é o poeta

Marcus Accioly, in Sísifo, Edições Quíron/MEC, 1976


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