Um poeta sinônimo de sua própria língua, Luís Vaz de Camões.
Um país que celebra sua data nacional na data da morte de
seu poeta maior e dedica essa mesma data às comunidades portuguesas espalhadas
pelo mundo, Portugal.
Neste dia 10 de Junho de 2017, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, feriado nacional em Portugal, 437 anos de sua morte, Camões
vive e é celebrado aqui, ali, além e em todos os recantos onde chegaram os lusos navegadores e se mais mundo houvera, lá teriam chegado.
Foi hoje, neste mesmo dia 10 de junho, que, cheia de alegria e honra,
participei de um belo momento evocativo da data. O Sarau Camões, organizado
pelo Mestre/Poeta Carlos Felipe Moisés, integrou o Festival Camões na Casa
das Rosas, decorrido durante todo o dia deste lindo sábado de final de Outono.
Fui uma das convidadas que deram voz à poesia de Camões e, de lambuja, ainda li poemas meus que, de alguma forma, dialogam com a poética camoniana. Um momento honroso e afetivo, estar naquela mesa, ao lado de velhos amigos como Carlos Felipe Moisés, Renata Pallottini e Álvaro Alves de Faria, bem como ouvir vozes dos outros poetas convidados e igualmente amigos, como Flora Figueiredo e Ruy Proença, Victor Del Franco, além de ter a oportunidade de ouvir pela primeira vez os jovens poetas Leila Guenther, e Paulo Ortiz. Gerações diversas a celebrar a poesia de Camões na bela língua de Camões.
Teve até Jorge Luis Borges, evocando Camões, lido no original pela querida Renata que
também surpreendeu o público, de improviso e fora do roteiro, cantando, de maneira deliciosamente bem humorada, uma
antiga marchinha de Carnaval, paródia dos versos de Camões "As armas e os barões assinalados /
vieram assistir ao carnaval./ cantando espalharei por toda a parte que o
porta-estandarte vai ser seu Cabral".
Dentre os textos de Camões que li, seleciono este
Soneto
Busque
Amor novas artes, novo engenho,
Para
matar-me, e novas esquivanças,
Que
não pode tirar-me as esperanças,
Que
mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai
de que esperanças me mantenho!
Vede
que perigosas seguranças!
Que
não temo contrastes nem mudanças,
Andando
em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde
esperança falta, lá me esconde
Amor
um mal, que mata e não se vê;
Que
dias há que na alma me tem posto
Um
não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem
não sei como, e dói não sei porquê.
e este poema meu, também lido na ocasião (a sua benção Camões!).
educação pela
palavra
Estremeço. No coração. As
letras vêm de lá
e da mão.
Luiza Neto Jorge
de
sua voz, pouco recordo
metida
em seu pijama amarrotado
manhã
adentro, olhos fincados
no
jornal do dia
(os
dias e os seus acontecimentos eram
o
que pelo jornal lhe chegava)
à
tarde, a bisavó letrada
(sempre
dispensando os óculos
lia
camões e folhetins franceses
em
brochuras de papel ordinário
chegados
de vapor
quinzenalmente)
tomava
chá inglês
toda
aquela devoção
à
palavra impressa
(intuía
a menina)
algum
mistério continha
e
passou a imitá-la
em
segunda mão, os folhetins
e
o camões indecifrável
lhe
diziam que seriam entranhados
um
dia, um dia...
dalila teles veras in solidões da
memória, Dobra Editorial/Alpharrabio Edições, SP, 2015
Belo momento que contemplo agora aqui da borda da Mata Atlântica em que vivo a escutar estes mistérios revividos em dois mil e dezessete
ResponderExcluirPelo motivo, pela competência dos convidados, pelo mote, com certeza foi um grande momento em que se deu voz à voz maior da lingua mãe!
ResponderExcluirQuerida, obrigada por compartilhar tão vivamente conosco, que não pudemos estar presentes no Encontro. Imagino como deve ter sido bom e aguardo os próximos! Um abraço!
ResponderExcluirMuitíssimo obrigada, amigos queridos, Edson, Rosana e Adelia, pela sempre generosa leitura e comentários. Já prometi a mesma não deixar vácuos longos nas escrituras do blog. Abraços
ResponderExcluir